sábado, 30 de outubro de 2010

DANÇA

A luz da lua cheia lança sua purpurina prateada sobre os seus domínios. O mar acaba de devorar avidamente o sol, seu maior rival, e está pronto para receber as carícias de sua amada inconstante. O clima é ameno e a areia, ainda morna, aconchega nossos corpos inertes e profundamente inebriados pela expectativa que se avizinha.
Começa a soar a música. Acordes em espiral erguem-se do chão içando meu corpo. Flutuo apoiada em teu olhar fixo. Movimento-me, suavemente, sempre com a tua proteção. Quero te encantar, quero te enternecer..
Aos poucos, sinto a música preencher todos meus espaços. Danço para ti, danço por mim. Pernas e braços presos às notas que voam por todas as partes, em perfeita sincronia. Sinto-me cada vez mais livre, cada vez mais leve e isso faz com que eu possa cada vez mais me aprisionar dentro das tuas pupilas. Meu corpo inteiro já percorre a tua mente. Fixo, quero-te fixo em mim. Quero tua força vibratória para as mais variadas acrobacias.
A túnica branca que cobre meu corpo, cada vez mais colada a ele, teima em se dissolver. Não me importo, ao contrário, desejo que ela desapareça por completo, não podemos mais manter obstáculos entre nós.
A brisa do mar refresca nossos corpos. Começo a demonstrar sinais de esgotamento o que me leva, cada vez mais, a aumentar a velocidade da dança.
Estamos ligados, mutuamente dependentes. Vou descendo, aos poucos, presa pelas tramas emaranhadas dos nossos pensamentos. Deito-me no chão, na tua frente. Estou ofegante e realizada. O suor toma conta de cada partícula de mim mesma. Brilho para a lua, brilho para ti.
Na languidez do momento, rolo ao teu encontro. Quero te sentir de perto. Acaricio o teu rosto, beijo-te os pensamentos e mergulho nos teus braços. Quero sufocar, quero perder os sentidos quando sinto teu peito descompassado, assim, tão próximo.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

JOÃO E MARIA

João e Maria envoltos na bruma, vestidos de nuvens, ao som de “Hard Day's Night” viram-se pela primeira vez. O burburinho do local pairava acima das cabeças e os olhos trocavam palavras mudas, repletas de significados. Ficaram assim por algum tempo, até materializarem-se lado a lado. Como íntimos desconhecidos de longa data, teceram comentários insossos e vazios, meras escadas para o futuro imediato. Olharam a porta e, ao mesmo tempo, encaminharam-se a ela . Saíram e voaram sobre a cidade no tapete mágico que já os aguardava. Calados, envolveram-se e rolaram no prazer do desconhecimento. Despediram-se, com um “até nunca mais”, um sorriso e um beijo. Partiram para todo sempre em direções opostas. Desapareceram na linha infinita dos olhares vagos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

INDIFERENÇA

Não consigo antever o final da história.
Minha bola de cristal embaçou.
Minhas cartas rasgaram-se.
Meus búzios pularam para fora da guia.
Acende o fósforo!!!
Estou confusa, o que virá?
O que eu posso esperar?
Devo esperar algo?
Eu ainda posso tentar?
Já deveria ter desistido?
Gostas da situação? A detestas?
Posso perguntar tudo isso?
Devo ficar calada?
A tua onipotência, na situação, é estarrecedora!
Estou definitivamente muda diante do espelho que insiste em me ignorar.