A luz da lua cheia lança sua purpurina prateada sobre os seus domínios. O mar acaba de devorar avidamente o sol, seu maior rival, e está pronto para receber as carícias de sua amada inconstante. O clima é ameno e a areia, ainda morna, aconchega nossos corpos inertes e profundamente inebriados pela expectativa que se avizinha.
Começa a soar a música. Acordes em espiral erguem-se do chão içando meu corpo. Flutuo apoiada em teu olhar fixo. Movimento-me, suavemente, sempre com a tua proteção. Quero te encantar, quero te enternecer..
Aos poucos, sinto a música preencher todos meus espaços. Danço para ti, danço por mim. Pernas e braços presos às notas que voam por todas as partes, em perfeita sincronia. Sinto-me cada vez mais livre, cada vez mais leve e isso faz com que eu possa cada vez mais me aprisionar dentro das tuas pupilas. Meu corpo inteiro já percorre a tua mente. Fixo, quero-te fixo em mim. Quero tua força vibratória para as mais variadas acrobacias.
A túnica branca que cobre meu corpo, cada vez mais colada a ele, teima em se dissolver. Não me importo, ao contrário, desejo que ela desapareça por completo, não podemos mais manter obstáculos entre nós.
A brisa do mar refresca nossos corpos. Começo a demonstrar sinais de esgotamento o que me leva, cada vez mais, a aumentar a velocidade da dança.
Estamos ligados, mutuamente dependentes. Vou descendo, aos poucos, presa pelas tramas emaranhadas dos nossos pensamentos. Deito-me no chão, na tua frente. Estou ofegante e realizada. O suor toma conta de cada partícula de mim mesma. Brilho para a lua, brilho para ti.
Na languidez do momento, rolo ao teu encontro. Quero te sentir de perto. Acaricio o teu rosto, beijo-te os pensamentos e mergulho nos teus braços. Quero sufocar, quero perder os sentidos quando sinto teu peito descompassado, assim, tão próximo.