sexta-feira, 22 de abril de 2016

PLANO

Ao vê-lo,
Curiosa, escorregava 
Pelas entrelinhas.
Em meio a arabesques
Dançava por espaços vagos
Da sua respiração.
Queria que ele a notasse,
Assim, de mansinho.
E, sem perceber,
Se entregasse, sonolento,
Aos seus mais delicados 
E mundanos
Caprichos.

domingo, 17 de abril de 2016

ELA

Dos equipamentos da felicidade,
Tinha o sorriso.
Iluminava até os dias mais chuvosos.
A gargalhada era tão potente
Que era capaz de fazer cessar nevascas.
Debochada,
Fazia a vida correr atrás dela.
E, absurdamente escabelada,
Ela corria.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

SOPA

Fugiu da caixnha das expectativas
E apareceu, em forma de labareda,
Bem no meio da sala de jantar.
Assustados, aqueles que tomavam
Automaticamente a sopa fria e gordurosa
Dos tempos sem brilho,
Acovardaram-se diante da inusitada presença.
Perguntavam-se, entre parênteses, 
O que teria ocorrido de fato.
Subindo na mesa, no alto de seu salto 15,
Dançou por entre os pratos
Alcançando a vetusta cabeceira.
Sentou-se indecorosamente de pernas abertas
E, gritando falas desconexas,
Atingiu o orgasmo recolhido há tanto.
Exausta, sucumbiu ao vento forte,
Que a carregou para todo o sempre.
Ao fim de tão trágica cena,
Voltaram à mesa aqueles que dela
Nunca saíram, suspirando, entre aspas,
Os desejos rotos e inconfessáveis.
A sopa congelou.