quinta-feira, 31 de maio de 2012

BRINCADEIRA

Quente, frio, frio, frio, frioooooo,
Gelado, glacial...
Agora sim, morno, sim, morno, está esquentando,
Vai, quente, quente, quente, quentíssimo,
Assim, segue, quentíssimo, fervendo,
Em ebuliçãoooooo!
Simmmmmmmm
Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii
Descobriu tudoooooo!
Bommm
Demaisssssssssssss!
Ai, ai...

quarta-feira, 30 de maio de 2012

VIVA

Se quisesse, quereria
Ocorre que não quero.
Finalizo o que não começou
Nem teve forças de ultrapassar
O estágio da cogitação.
Ninguém ferido, portanto.
Estúpida segurança.
Inaceitável final feliz!
Um viva à covardia vencedora!

terça-feira, 29 de maio de 2012

LENDA

Em laços de fitas azuis
Cinturas unidas, voavam.
Dançavam sem o chão sentir
Em graça e leveza extravasavam.

Cumplicidade e sorrisos os unia
E o mar que a distância impunha
Nem era bem percebido, pois
A quem tem asas, nada acabrunha.

Flutuando em sorrisos sempre
Nas rápidas palavras em dança
Mal perceberam a tempestade próxima
A grande inimiga da bonança.

De um raio só, fulminados
Sucumbiram em meio ao clarão
Os corpos apaixonados
Jaziam agora no chão.

Mas a quem o amor embriaga
Não se rende, nem vira pó
Acordados foram com o vento
Que sibilava em um sustenido dó.

Olharam-se no momento imediato
Rolaram tanto de rir
E ao prazer ali se entregaram
Antes de com o vento partir.

Agora nas noites sombrias
Nas tormentas e tempestades
Sente-se a energia dos amantes
Que a tudo e a todos invade.

Em grandes fachos de luz
Dirigidos aos que se amam
Surgem os dois de mãos dadas
Repartindo sensações aos que clamam.

Uns dormem, outros partem
Pois já satisfeitos todos os sentidos
Fica a esperança que um novo sonho retorne
Para seguir agradando aos envolvidos.


segunda-feira, 28 de maio de 2012

CUIDADO

A sombra negra a perseguia.
Mesmo sem luz,
Ela a conseguia pressentir.
Não agia mais com naturalidade
Com medo da reprovação.
Não arriscava nem sorria.
Sentia-se murchar aos poucos
Sua energia estava sendo sugada
Pela estranha parasita
Sabia disso.
Morria devagar
Vendo sua cor fugir
E sua carne apodrecer
No pouco valorizado cotidiano.
Havia perdido o tempo,
Agora já era tarde,
Muito tarde para revidar.
Agonizou em silêncio na esquina escura
Para não importunar os passantes.

domingo, 27 de maio de 2012

RECORTES

Com a tesoura de ponta rombuda
Cuidadosamente destacou a imagem dele
Do cenário azul celeste
Da antiga fotografia.
Linhas curvas, linhas retas, detalhes.
Agora tinha dois:
Ele e a sua ausência.
Dormiu feliz comemorando
O ganho.

sábado, 26 de maio de 2012

CORRIDA

Sem noção
Do perigo
Do ridículo
Do adequado
Do aceitável
Do comum
Do esperado
Sigo em frente
Rumo ao precipício
De braços abertos
Correndo tudo que posso.
Cair?
Não!
Só vou voar um pouco
E já volto!

sexta-feira, 25 de maio de 2012

APARIÇÃO

Hoje um vento passou por mim.
Não era brisa,
Não era tufão,
Era vento mesmo.
Ritmado,
Na velocidade certa.
Refrescante,
Com cheiro de doces lembranças.
Hoje passou por mim um vento,
Na intensidade tão desejada
Que não pude fazer mais nada
Larguei tudo de qualquer jeito
E fui embora com ele.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

SILOGISMO


Premissa maior: 
Reticências denotam inúmeras possibilidades.
Premissa menor:
Sou a personificação das reticências. 
Síntese: 
Sou multipossível.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

MONOTONIA

Achava sua vida muito preto e branca.
Arriscava-se no máximo aos tons de cinza.
Não tolerava mais esta monocromia.
Queria cores vibrantes.
Vermelho é um bom tom.
Pensou em uma solução rápida
Capaz de resolver o problema.
Pegou a arma
Colocou o cano na boca
E puxou o gatilho.
Ainda bem que não conseguiu ver
O sangue cinza chumbo que explodiu
Por sua face esperançosa.

terça-feira, 22 de maio de 2012

CONFISSÃO

Sou culpada Já me convenci disso. Chega! Não precisa repetir! Eu-já-sei! Convivo com a culpa desde muito. Confesso que nutro até um certo carinho pela danada. Uma vez resolvida a situação da negação, tudo fica mais fácil. Pronto! S-O-U-C-U-L-P-A-D-A! Gostou? Bem e agora? Sim, e agora? Vai ficar parado assim, sem qualquer reação? Ah, já sei! Faltou assunto, né? Se sou culpada, sei disso e assumo, do que vai poder me acusar? Ahá! Problema seu! Seja criativo, oras! Ah, sei! Agora  vai dizer que sou culpada da sua falta de criatividade também?!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

TRABALHO

O peso está grande.
A rachadura avança em seu traçado
De bordas irregulares e incertas.
Falta pouco para ruir,
Eu sei...
Vou, distraindo-me
Com os conselhos placebos
Consoladores no pensar geral.
Tento sorrir para mais um dia de mentiras.
Aplaudo o amanhecer borrado de lágrimas
Visto a carapaça rota e estou pronta.
Afinal,
O dia não se levanta se eu não ajudar.

domingo, 20 de maio de 2012

E AGORA?

Tinha os olhos de serpentina.
Quando queria os desenrolava lentamente
Para espreitar sem ser notada
Pelas frestas e esquinas mais escondidas.
Por vezes os queria velozes.
Lançava-os como se flechas fossem
Arrebatava o objetivo,
Retornando em um lampejo
Não captado pelos observadores mais atentos.
Exercia seu poder todos os dias
Ora para divertir-se, ora por achar necessário.
Agora não sabia o que fazer,
Em todas as ocasiões aquilo nunca havia ocorrido.
Precisava pensar rápido
Ficar presa no alvo não fazia parte dos seus planos,
Mas como conseguiria se libertar
Se tinha perdido o comando da ação?
Eles não queriam mais voltar! Fixaram!
Nunca havia imaginado essa possibilidade.
Alguém sabe como fazer para desapaixonar?

sábado, 19 de maio de 2012

PENSAMENTO

Escrevo em nuvens só para ter o prazer de ver minhas ideias mudarem de forma, voarem com o vento e serem livres de quaisquer amarras. Até mesmo das minhas...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

SOMBRAS

Escureceu o quarto
E acendeu o pequeno facho de luz branca
No meio da parede.
Sentou-se sobre os calcanhares.
Ergueu as mãos.
Fechou os olhos
Para que que elas agissem
Sem qualquer interferência.
Começaram a surgir as formas,
Primeiro coelhos,
Cachorros,
Macacos,
Cisnes...
Todos dançavam ao seu redor
Quando a grande ave se fez.
Silêncio.
Asas longas e negras no fundo alvo.
Um coração pulsando forte, podia-se ouvir.
Ficou parada esperando.
Não se mexia, não voava,
Nada.
Esperava.
Ela abriu os olhos devagar 
Para entender o que ocorria.
De imediato, encantou-se com a altiva figura
E com a força que ela lhe transmitia.
Aceitou sem demora o doce convite.
Pulou no dorso do animal, 
Agarrou-se ao seu pescoço como pode e partiu.
Sabia qual era o destino,
Sentia-se segura e feliz.
Deixou que o sonho fizesse o resto...


Lendo o comentário do meu querido amigo Rogério Pereira de ontem, não pude deixar de pensar no  post de hoje.
O jogo de sombras sempre foi algo que me encantou desde criança. Lembro-me de passar horas ajoelhada ao pé da cama da minha avó, brincando com as mãos, o facho de luz e a parede. Vivia grandes emoções, inventava história e de todas as maneiras, sonhava e voava muito.
 Assim, este é teu Rogério, e quero compartilhar com todos que sempre me honram a presença. Obrigada a ti e a todos pelo carinho de sempre.
Um grande bj 
Gisa


quinta-feira, 17 de maio de 2012

VAGAS

Atrás do biombo brincava com a sombra.
Bruxeleava como a pequena chama
Surgia e sumia ao seu bel-prazer
Jogo enigmático de excitação e prazer.
Necessário dois jogadores,
Ou três, ou quatro, ou cinco, ou...
Mandar currículo para:
euquero@jogodobiombo.com.br
Análise rápida.
Respostas em breve.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

ÚLTIMO DESEJO

Bebeu do amargo veneno e foi-se. Queria aproveitar todo tempo que lhe restava, para, ao menos,ter um final feliz.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

CLIC

Quando acordou, 
Logo percebeu a nitidez do colorido. 
Olhou para o lado e o viu dormindo. 
Como pode se revelar tão rápido? 
Não se importava realmente com a resposta. 
Aproximou-se e o despertou com as mais ternas carícias. 
Ele retribuiu com os muitos ângulos e zoons 
Que ela desejava. 
Foi em meio ao calor dos clics mútuos 
De máximo prazer 
Que o despertador tocou. 
Aborrecidos, 
Recolheram-se a sua dimensão paralela, 
Imóvel e colorida, 
Em meio a moldura detalhada de prata. 
Foi por pouco que eles não os perceberam. 
Ficaram de mãos dadas observando 
O enfadonho início de rotina dos seus negativos. 
Logo a noite chegaria de novo 
E, durante o sono deles, 
Poderiam retornar 
Às vibrantes cores das suas 
Sessões fotográficas.

domingo, 13 de maio de 2012

SUBSTANTIVO

Mulher-mãe
Profissional-mãe
Dona de casa-mãe
Cidadã-mãe
Blogueira-mãe
Esposa-mãe
Mãe-mãe
Não consigo ser diferente.
A partir de janeiro de 1995,
Passei a ser um substantivo composto.
E isso será para todo o sempre.
Ainda bem!

FELIZ DIA DAS MÃES A TODAS AS MÃES!

sábado, 12 de maio de 2012

PAREDES

Suas tintas já secaram.
As cores encontram-se desfalecidas.
O pincel de cerdas macias
Não possui mais a leveza de antes.
E ela,
Ainda insiste em ensaiar garatujas,
Em telas cobertas pelo bolor do tempo.
Triste dos que teimam em não entender
Que não existem mais paredes a adornar.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

SE

Se um dia terminar,
Entende
Tinha que ser.

Se um dia terminar,
Entende
A magia acabou.

Se um dia terminar,
Entende
Tudo se vai.

Se um dia terminar,
Entende
Foi bom e sabemos como foi.

Se um dia terminar,
Entende
O desgaste é inevitável.

Se um dia terminar,
Entende
O passado já nos abraçou.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

COMPANHIA

Estou oca.
Dentro de mim 
Só o eco me acompanha:
Oca.
Louca, 
Oca. 
Louca,
Oca, 
Louca, 
Oca, 
Louca, 
Oca,
Louca,
Oca...
Louca...
Out of order!
CLANC!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

CERIMÔNIA

Chegaram de negro.
Mãos em oração.
Véus sobre os rostos.
Choravam mediante paga.
Lágrimas na exata proporção da retribuição.
Postaram-se diante do caixão.
Ninguém mais poderia se aproximar.
Fecharam o cerco.
Muro preto, indevassável.
Pobre alma, pensavam alguns.
Era tão bom, pensavam outros.
O choro,
Que rolava das faces com indiferença,
Começou a alagar o ambiente.
Desconforto.
Pessoas começaram a se retirar,
Atônitas com a surreal cena.
Águas pelas cinturas
E o pranto ritmado,
Punham a correr os mais determinados.
Elas ficaram sós,
Sempre cumprindo suas úmidas prestações.
Movimento inusitado.
Ele sentou-se no caixão
Olhando em volta.
Tudo certo.
Tirou a carteira do fundo do bizarro catre.
Pagou a todas que, em fila, retiraram-se
Impassíveis.
Mais uma missão cumprida.
Mais um dia de provimentos garantidos.
Vendo-se só, levantou-se com cuidado.
Varreu toda a lama que se formara para o ralo,
No fundo da peça.
Livre e limpo afinal.
Abriu as janelas e deixou que o sol entrasse.
Foi até a porta no canto e encontrou a escada.
Desceu todos os degraus para nunca mais voltar.
Afinal, naquela vida,
Já constava como morto.
Agora só tinha que se preocupar em encontrar a próxima.
Avistou uma nova porta.
Respirou fundo antes do recomeço.

terça-feira, 8 de maio de 2012

VISÃO

Quero falar contigo
No breu da noite 
Sem ver teu rosto.

Segredos mútuos,
Unirão nossos corpos,
Desenharão confissões.

Envoltos de força
Seremos opostos.
Polos colados.

O tempo se passa
Com a terrível pena
De quem tem que partir.

No amálgama humano
Perdidos ficamos 
Em busca dos eus.

Sentidos aguçados
Cada qual para seu lado
Tentamos dormir.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

FÉRIAS

Difícil de entender
Difícil de dizer
Difícil de pensar
Difícil de imaginar
Difícil, mas possível.
Meu eu quer férias de mim mesmo...

sábado, 5 de maio de 2012

COLAGENS

Saiu à rua com a teleobjetiva.
Fotografou de pé,
Deitada,
Rolando.
De cima dos sorrisos,
De baixo da multidão.
Conseguiu os ângulos mais incríveis.
Voltou para casa
E imprimiu tudo em papel adesivo.
Entrou no pequeno quarto
Fechou a porta com a chave,
Não queria ser importunada.
Começou colando o sol do canto superior esquerdo,
Tinha que ter luz para o trabalho.
A lua, cheia e plena, colocou no canto oposto,
Gostava de propiciar o namoro entre os dois.
Pelas paredes laterais distribuiu
As cachoeiras,
Os sorrisos,
As festas,
Os brilhos,
As multidões,
As flores,
O fogo,
E as pedras.
Deu por concluída a tarefa 
Quando, afastando-se pelo horizonte,
Produzido em toda linha mediana do fundo a peça,
Olhou para trás e pode ver a música, a alegria e a vida,
Que haviam brotado no diminuto cômodo,
Acenando-lhe, insistentemente.
Retribuiu o cumprimento e olhou para frente.
Já não era mais necessária ali.
Partiu resoluta à procura de novas escuridões.
A abrandar.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

VAGÃO

Saiu e a porta bateu atrás dela.
Não poderia mais voltar.
Que alívio!
Detestaria ter que explicar,
A todos que ficaram na sala,
Como o ar tornava-se mais puro
Quando estava longe deles!
Correu para não perder o último vagão
Que já estava de partida
No trilho do arco-íris.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

OBJETIVO

Corria.
Enfrentava obstáculos.
Esfolava-se as pernas e os pés.
Seguia em frente sempre.
Sangrava os ferimentos,
Que cicatrizavam automaticamente
Para dar lugar aos novos.
Não esmorecia.
Tentava esquecer a dor.
Focava-se no objetivo final.
Cresceria,
A qualquer preço.
Custasse o que custar.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

TABULEIRO

Tem vezes que a gente fica sem palavras. A sensação de tristeza invade e nos coloca em estado de sítio. Corremos às janelas e estas estão cerradas. As portas, emperradas. A casa, vazia. Quando nos damos conta que nada podemos fazer a respeito ficamos aflitos, agitados. Nada podemos fazer a respeito disso também. O chão é frio e a luz se foi. Temos medo. O escuro oculta e o silêncio encobre nossos gritos. Ninguém nos vê, ninguém nos escuta. Sentamos no canto e nos encolhemos em nós mesmos. Talvez tudo passe ou acabe. Não sabemos. Ficamos prostrados, cegos, surdos e mudos, desejando, com muita força, que a monotonia dos dias sinta a nossa falta e nos reclame para que voltemos ocupar aquele espaço cinza chumbo que havíamos deixado, sem olhar para trás, no tabuleiro do cotidiano.

terça-feira, 1 de maio de 2012

ALCOVA

Liguei o GPS e fui.
O sinal era claro.
Siga em frente
Até a próxima esquina.
Dobre à direita.
Siga três quadras.
Dobre à esquerda.
Comecei a avistá-lo de longe.
Primeiro um vulto
No fundo da paisagem.
Siga em frente duas quadras.
Sua forma irresistível e sorrindo
Começou a se aproximar do meio-fio.
Uma quadra.
Ele em pé com os olhos brilhantes.
Parei ao seu lado.
Embarcou e me beijou despreocupado.
Olhei para frente e acelerei.
Só parei quando me livrei da gravidade
E pousei na lua.
Afinal, depois de tanto tempo de saudade,
Merecíamos um elaborado cenário
Só para nós.
Apagamos as estrelas
E entramos aos risos e sussussurros
Na primeira cratera.