sábado, 29 de setembro de 2012

OBJETIVOS

Dançou,
Em movimentos descendentes,
Os últimos acordes agudos do pânico.
Enterrou-os na lama escura
Do poço sem fim.
Subiu leve
E planou a um palmo do solo
Sendo aquecida pela energia
Que emana dos olhos
Daqueles que voam um pouco mais acima.
Ainda chegaria lá,
Era só uma questão de tempo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

ORNAMENTO

Sugo da imagem
Contida na antiga fotografia
Tudo que ela me permite apreender.
Com o resultado construo um mosaico.
Peça a peça cuidadosamente arranjada.
Desenhos complexos.
Beleza plástica inconfundível.
Olho a obra e consigo reconhecer-te
Sorrindo em cada contorno.
Em um ímpeto de saudade e carência,
Desintegro-me.
Em forma de pó colorido
Começo a preencher os espaços simétricos
Existentes nos pequenos vãos.
Anseio recuperar nossa completude
Ainda que seja apenas ornamental,
Apenas para agradar aos olhos daqueles
Que circulam distraidamente pelo ambiente.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

PRONTA?

Crise de abstinência.
Provoco ao máximo.
Testo a tolerância.
Confiro sensações.
Anoto posturas.
Tudo diagramado,
Libero as correntes
E recebo o impacto
Do que mais temia.
A frase : "E agora?"
Baila no ar debochando
Do meu olhar perdido.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

TOUCHÉ!

Sempre dançando,
Envolveu-o com os sete véus retirados,
Um após outro.
Certificou-se da imobilização
Meticulosamente realizada e sorriu.
"Fuga impossível!" - gritou,
Retirando-o do transe provocado
Pelas ondulações do corpo durante a música.
Chegou perto, bem perto, dos seus olhos espantados
E o beijou.
Este seria o último ato terno
Que se propusera fazer.
Saboreou sua aflição.
Iniciaria o dolorido ritual
No momento em que bem entendesse.
Só restava a ele,
Esperar.

domingo, 23 de setembro de 2012

RECADO

Disseste-me esquecida,
Não sou.
Lembro cada detalhe
Daquilo que és, daquilo que sou e daquilo que somos.
Vejo-te amanhecer e entardecer
Em silêncio,
Pois a beleza está oras na claridade no sol
E oras na névoa da lua.
Digamos que ando na ...
Lua nova
A te espreitar.
Quando menos esperar,
Ataco!
Espera...

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

CÍRCULO

Enfeitiço quem detesto.
Detesto quem amo.
Amo quem desprezo.
Desprezo quem enfeitiço.
Emudeço.
Maldito
Círculo concêntrico
Da fatalidade.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

LOUCURA

Sou louca por mim.
Sou louca por ti.
Sou louca por nós.
Sou louca pelos outros.
Outros?
Bem,
Isso,
É uma outra história...

domingo, 16 de setembro de 2012

CONCLUSÃO

Lembrei só para dizer que esqueci.
Pronto!
Agora estou livre da carga.
Vou sem olhar para trás.

sábado, 15 de setembro de 2012

PAZ

Tudo se ilumina.
O branco concorda
Em liberar todas as cores
Nele aprisionadas.
O som se organiza
E permite
Que a sinfonia surja.
O calor dá as mãos ao frio
Tornando a temperatura
Agradavelmente morna.
O vento vira brisa,
Fresca e animadora.
Ela sorri ao ver a felicidade
Entrar no recinto.
Tudo se harmoniza,
Finalmente.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

SEM ALTERNATIVAS

Egoísta
Autoritário
Convencido
Intolerável
Enlouquecedor
Fazer o quê?
É meu.
Não tenho como
Arrancar fora.
Maldito coração!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

VASO

No vidro embaçado,
Via a galeria de rostos se apresentar.
Cada um portava uma lembrança
Que recebia de imediato
E guardava no pequeno vaso de flores
Embaixo da janela.
Visões queridas e malditas
Desfilavam sem ordem,
Sempre trazendo uma emoção peculiar.
Após o último da lista,
Limpou a vidraça.
Regou com cuidado o receptáculo utilizado no ritual
Colocando-o no sol da tarde,
Sendo banhado pelos brilhos brancos da lua plena,
Durante toda a noite.
Aos primeiros claros da manhã,
Levantou-se rápido para conferir o resultado.
Feliz, verificou as flores coloridas que perfumavam todo ambiente,
Emitindo as energias recondicionadas
Das recordações puras.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

CARRASCO

Hoje,
Quando menos se esperar,
Será ontem.
Vestido à força com os véus
Rotos do passado,
Suspirará a saudade do calor
Do tempo presente,
Figura sombria,
Onipotente senhor insaciável de horas,
Carrasco determinado
Dos sonhos limitados dos dias.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

DISSIMULADA

Fiz que não vi.
O sorriso interior da molecagem
Aqueceu minhas vaidades.
Passei reto.
Meu ego debruçou-se para trás.
Não queria perder uma única reação.
Senti o calor me queimar
Quando o vento me trouxe o cheiro
Do teu corpo,
Tão próximo.
Foi com desdém premeditado,
Que te olhei, te encantei e te prendi para sempre.
Fiz acreditares que a conquista foi tua.
Jamais saberás o quanto ansiei e planejei este momento.
Venci!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

DÚVIDAS 4

Seguindo a trilha que surgia sob seus pés,
Ela avistou a bela porta, alta e torneada.
Lembrou-se da chave,
Cada vez mais aquecida,
Que trazia junto ao peito,
Apertando-a entre as mãos.
À medida que andava,
Diminuía de tamanho,
Assim como a porta a sua frente.
Ao chegar diante de seu objetivo tão buscado,
Percebeu, com surpresa,
Que este estava contido em algo maior,
Parecia um corpo sentado no chão
Com um olhar atônito.
Não deu importância,
Queria experimentar a chave.
Testou-a na fechadura.
Abriu.
Entrou sem pedir licença
Mal percebendo que esta
Se fechara para sempre
Atrás dela.
Ele acordou e não encontrou mais a porta.
Deveria ter sido um sonho, pensou.
Ergueu-se e partiu com um calor
Doce e acolhedor dentro do peito.
Não sabia porque,
Mas desde este dia
Nunca mais se sentiria só.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

DÚVIDAS 3

Amanheceu diferente.
Ela observava,
Com atenção,
O curioso caminho
Que se formava sob seus pés
À medida que andava.
A cada passo percebia
A intrigante chave,
Que levava sempre no pescoço,
Aquecer.
Ele, ao contrário, não conseguia se mover.
A porta, desenhada no vazio,
Parecia exercer uma atração incomum sobre seu corpo.
Toda vez que tentava se afastar
Retornava ao ponto de partida junto à soleira,
Que de um momento para o outro,
Começou a brilhar.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

DÚVIDAS 2

Aquela porta o intrigava.
Havia um tempo que a havia desenhado
No espaço em branco.
Era alta, bela e torneada.
Aonde levaria afinal?
Já tentara abri-la de todos os modos.
Nada.
Onde estaria a chave?
Agora estava muito tarde,
Melhor dormir.
Amanhã seguiria na busca.

domingo, 2 de setembro de 2012

DÚVIDAS

Desenhou no espaço em branco.
Uma chave torneada.
Não sabia ao certo
Para que serviria.
Pegou-a com
Diversas dúvidas
Que tentavam
demovê-la da ideia.
Pendurou no pescoço
Na fina corrente que
Sempre trazia junto ao peito
E seguiu.
Um dia saberia porque teria agido assim.
Um dia...

sábado, 1 de setembro de 2012

FATO

Unhas, vermelhas.
Boca, vermelha.
Saltos altos, vermelhos.
Vestido, vermelho.
Lingerie, vermelha.
Bolsa, vermelha.
Peito vermelho, aberto.
Sangue vermelho, escorrendo.
Coração cinza,
Parado.
Vulto negro,
Fugindo.
Luz branca,
Partindo.