quinta-feira, 31 de março de 2011

DUALIDADE MUTANTE

 
Existem na vida dois planos principais:

Um, chamado a partir deste momento de “A”, 
onde a pessoa atua no seu dia a dia, 
no trato cotidiano, familiar e profissional. 
Ele traduz a ideia de quem somos perante os outros e a sociedade. 
É a faceta que demonstramos para o mundo
e aquela pela qual o mundo nos conhece.

O outro, que passa a ser chamado de “B”, 
é o mundo interior, 
quem somos de fato diante de nós mesmos. 
Nossos desejos, nossa força e nossa essência.
É o plano onde rimos sem qualquer preocupação com o adequado 
e choramos profundamente nossas mágoas.

Ambos planos,
duas facetas da mesma moeda,
seguem caminhos paralelos
sobrepondo-se, rapidamente, ao nosso comando,
Como em um passe de mágica, graças a nossa
Dualidade mutante.

quarta-feira, 30 de março de 2011

ÓBVIO

Emudeço diante do óbvio.
Para que seriam necessárias as palavras,
Se as ideias já se materializaram
E encontram-se sentadas na sala de espera
Aguardando sua ficha ser chamada?
Insuportável tanta autonomia...

terça-feira, 29 de março de 2011

PAREDES

O mundo deve ser mais amplo do que isto.
As duras e impenetráveis paredes com as quais nos cercamos
Nos protegem dos perigos,
Mas, muitas vezes,
Nos impedem de sentirmos a brisa e o cheiro do mar.
Quais são realmente os melhores valores,
Segurança ou aventura...
Comodidade ou curiosidade...
Gelo ou fogo...

segunda-feira, 28 de março de 2011

ESPIÃ

Espio tuas imagens através da tela,
Em silêncio
Não respiro,
Sempre com medo que sintas a minha presença
Não quero que percebas o quanto ainda preciso de ti.

domingo, 27 de março de 2011

TRAIÇÃO

Disseram-me que
A porta que surge entre dois mundos paralelos chama-se traição.
Se, em seu lugar, houver uma parede que impeça a visão dos planos contíguos
Teremos calmaria, prazer e felicidade...
Será?

MEME LITERÁRIO


É com muito prazer que respondo ao Meme Literário que me foi enviado pelo amigo Expedito Gonçalves Dias, o Profex do Blog do Profex (http://blogdoprofex.blogspot.com/). Vamos aos questionamentos:

1) Existe um livro que você leria várias vezes sem se cansar?

Bem, acho que existem vários, no entanto como tenho que indicar um, indicaria a trilogia do Tempo e o Vento (O Continente, O Retrato e O Arquipélago) do gaúcho Érico Veríssimo. Li os sete livros duas vezes já e acho que leria outras tantas se tivesse tempo.

2) Se você tivesse que escolher apenas um livro para ler para o resto da sua vida qual escolheria?

Um único livro pelo resto da vida é uma questão muito difícil, mas acho que ficaria com Cem Anos de Solidão do colombiano Gabriel Garcia Márquez, encantadoramente repleto de Aurelianos e Josés Arcádios.

3) Indique três dos seus livros preferidos.

“Dona Flor e seus dois maridos” do baiano Jorge Amado;
“Incidente em Antares” do gaúcho Érico Veríssimo; e
“Intermitências da Morte” do português José Saramago.

4) Indicar 10 blogs.

Difícil esta escolha! Dez é um número muito restrito! Regras são regras, então com as devidas desculpas aos demais indico (compreendo a falta de tempo de todos, não se sintam obrigados em responder, mas se puderem adoraria conhecer um pouco mais de todos vocês):

1) Lully do Meus Discos, Meus Livros e Nada Mais (http://discoslivrosnadamais.blogspot.com/)

2) Guará do Afogando o Ganso (http://afogandooganso.blogspot.com/)

3) Leonardo da Barca dos Amantes (http://abarcadosamantes.blogspot.com/)

4) Zé Carlos da Casa do Zé Carlos (http://zecarlosmanzano.blogspot.com/), Almas Douradas (http://almasdouradas.blogspot.com/) e Sonhos (http://sonhodepaz.blogspot.com/)

5) Henrique do A Minha Travessa do Ferreira (http://aminhatravessadoferreira.blogspot.com/)

6) Lufe do Buteco do Lufe (http://butecodolufe.blogspot.com/)

7) Rogério do Conversa Avinagrada (http://conversavinagrada.blogspot.com/)

8) Dja do Dja Tocando em Frente (http://djasuares.blogspot.com/)


10) Jasanf do Lectando-me (http://lectandome.blogspot.com/)

5) Mencionar quem indicou.

Obrigada pela indicação Profex! (Blog do Profex – http://blogdoprofex.blogspot.com/)


Muitos bjs queridos amigos e obrigada pela atenção

Gisa

sábado, 26 de março de 2011

ENCONTRO

Encontraram-se em meio a guarda-chuvas e muita água. Reconheceram-se à distância, cada um do seu lado da avenida movimentada. Aguardavam o sinal ansiosamente para que pudessem compartilhar o ar de mais próximo. O movimento era intenso, tanto de carros quanto de pessoas. Olhavam-se com muita impaciência separados pela agitação. Mal tinham se visto e já precisavam um do outro para continuarem a trajetória. O fluxo de veículos não parava. Tomados de uma necessidade de viver, que só os moribundos possuem, lançaram-se no asfalto. Deram-se as mãos e sorriram um para o outro enquanto o caminhão amassava seus sonhos.

sexta-feira, 25 de março de 2011

ANÚNCIO

Precisa-se de alguém com disponibilidade bastante para dedicar carinho e atenção. Imprescindível saber encantar e ser encantado. Deve ser, não é necessário ter, mas deve ter que querer. Advertência: o trabalho possui alguns riscos, mas nada que não possa ser suportado com muito bom humor. Horário integral, sem direito a finais de semana, feriados e dias santos. Salário a combinar, podendo ser pago (ou recebido) em sorrisos, toques, sonhos, ou, simplesmente, olhares. Enviar currículo, com foto da aura, para caixa postal "nuvem" deste jornal.

quinta-feira, 24 de março de 2011

ROSTO


Possuía aquela imagem há muitos anos, não sabia ao certo quem tinha sido, apenas guardava o delicado papel com muito respeito, na esperança de, um dia, reconhecer-se naquele rosto outra vez.

quarta-feira, 23 de março de 2011

EVOLUÇÃO


Permanecer em uma ideia só porque ela surgiu antes das demais, engessa a evolução do pensamento

Permanecer em uma ideia só porque entendíamos ser a mais correta, engessa a evolução do raciocinio

Permanecer em uma ideia só porque temos medo do que a mudança possa parecer aos olhos dos outros, engessa a evolução do indivíduo

Assim, sou volúvel sem nenhuma culpa, pois sou favorável à evolução.

terça-feira, 22 de março de 2011

UM POEMA EM TRÊS

Queria escrever um poema
Olhei para os teus olhos e desisti
Como poderia competir com este sorriso que carregas em tuas pupilas?


I wanted to write a poem
I looked into your eyes and gave up
How could I ever compete with that smile that you carry in your pupils?



Je voulais écrire un poème
J'ai regardé dans vos yeux et quittais

Comment pourrais-je rivaliser avec ce sourire que vous portez à vos pupilles?

segunda-feira, 21 de março de 2011

VENTO

O vento não lhe incomodava. Ao contrário, todas as noites, antes de dormir, abria as janelas para que entrasse no seu quarto. Compartilhavam segredos, riam e conversavam. Arrepiava-se, prazerosamente, com seus carinhos. Um dia, percebeu que nada mais a prendia àquelas paredes, desfez-se no ar e voou com ele na imensidão da noite para viver, talvez, um grande amor.

VERSOS

Vazo o papel com meu lápis.
Versos são liberados ao ar, cobertos do negro grafite.
Esses já não mais me pertencem.
Vão ganhar o mundo, buscando novos olhares e corações.
Triste, olho para a página rompida de onde se desprenderam.
Constato que não se foram de todo.
Deixaram-me, na folha recortada, a visão iluminada de cada um dos seus contornos.

domingo, 20 de março de 2011

PERDIDA

Não tenho mais tempo para brincar.
Brincadeiras inconsequentes e despreocupadas, longe de mim!
Evitar, cair, rastejar.
Tento me prender em tudo para que este turbilhão não me leve.
Prego os pés no chão e amarro minhas mãos.
Boca amordaçada, de que adianta?
Não posso aprisionar minha cabeça.
As ideias dançam, provocam-me.
O desdém é irritante.
Tento dormir.
Elas apenas sentam para descansar e juntar forças para me atordoar no dia seguinte.
Não devo ceder, não posso ceder, não... quero... ceder...?!
O gosto deve ser doce, a brisa deve ser fresca, cheirando a hortelã,
O corpo deve ser quente e irredutível,
As mãos devem ser macias e a fala, mansa.
O brilho é inconfundível e a calidez da alma, irrefutável.
Não quero ceder
Sob pena de não mais me encontrar
Pensando melhor,
Que mal teria em me perder para sempre?

sábado, 19 de março de 2011

DEDICAÇÃO

Danço para teu prazer
Deito, rolo e escalo os acordes da tua respiração
Teus suspiros elevam-me ao ar para que eu possa girar sem amarras
O olhar que me lanças desenha em meu corpo tatuagens do teu eu
Pertenço-te
Flutuo em teu entorno
Meus cabelos voam na expectativa de te emaranhar para sempre
És meu rei
E para ti vivo

sexta-feira, 18 de março de 2011

ENTER

Leio os jornais como se fossem poesia!
Ritmo compassado e apaixonado.
Acho que estou enlouquecendo aos poucos.
Doses homeopáticas.
Gotas de insanidade diárias, de 6 em 6 horas.
Viver? Sonhar? Amar?
Tudo isso deve fazer algum sentido
Em determinados e escondidos lugares do meu cérebro.
Quero fugir deles,
Bobagem!
Não precisam mais de mim.
Funcionam sozinhos basta apertar a tecla ENTER.

quinta-feira, 17 de março de 2011

NAUFRÁGIO

Tanto quis e agora tenho dúvidas.
O tempo de espera fez muito mal.
O bom é o ímpeto da emoção, o sentimento pulsante, fresco.
O tempo traz a maturidade aos sonhos e os transforma em pensamentos.
Este amadurecimento faz o fluído ancorar e a razão tomar conta.
As cores vão ficando esmaiecidas e dentro desta fraqueza,
O preto e o branco começam a devorar todas as imagens.
Uma mansidão assustadora toma conta da tela.
Chega o momento do naufrágio.

quarta-feira, 16 de março de 2011

AUSÊNCIA

Quando te olhei
Nenhuma emoção senti
Tentei buscar alguma imagem adormecida
Mas constatei que o sono era tão profundo
Que decidi não perturbar

terça-feira, 15 de março de 2011

EMBATE


Knockout
Não temos mais chance
um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez
a vida corre para trás
Queda
Choros
Tontura
Mágoas
Dor
Onde erramos?
Soco
Por que tem que ser assim?
Esquivas
Desculpas
Golpes no ar
Tentativas frustradas
Olhares ameaçadores
Tínhamos amor
Fome de sangue
Tínhamos desejo
Medos e inseguranças
Gostaríamos que desse certo
Ringue
Aproximamo-nos
Corda
Encontro e completude
Entrada em cena
Olhos se cruzaram
Vamos lá
Sorrisos mútuos, vai dar certo!


É lutador, fomos vítimas de um flashback às avessas
Agora estamos livres para buscarmos novos embates
Boa sorte!


segunda-feira, 14 de março de 2011

TENTATIVA

Sou dura
Mas como as mais rígidas rochas
Podem ser nascedouros de límpidos rios
Repletos de força e energia
Lágrimas vertem dos meus olhos,
Independentes,
Fluem pelo rosto
Cristalinas e cheias de intenções
Coitadas!
Pretendem recriar a vida
Na aridez da minha alma.

domingo, 13 de março de 2011

PRESSA

Por um instante perdi o olhar
Quando dei por mim estava pendurada no fio da navalha
Com o sangue quente pingando sobre meu rosto
A muito custo, subi na lâmina e pus-me na ponta dos pés
Com os braços abertos deslizei,
Concentrada na tarefa,
De um lado para o outro
Dançando, saltando, caindo e rolando
Até que o último pedaço do meu corpo
Fosse consumido pelos cortes do metal afiado.
Finalmente liberada,
Parti com pressa.
Precisava continuar extrapolando os limites
Em outra dimensão

sábado, 12 de março de 2011

CONDIÇÕES

Para entrar no meu mundo, bom humor é fundamental
O passaporte pode ser uma gargalhada ou um simples sorriso dado com os olhos, você escolhe.
Tem que ser leve
Isso não quer dizer que ande flutuando por aí ou que seja magérrimo, não
Tem que ter espírito leve, alma grande, daquelas que não cabem no corpo,
Como se fosse um bolo saindo da forma, sabe?
Imprescindível que goste de beijar e de ser beijado
No rosto, na boca, nos olhos, nos cotovelos, nos joelhos, nos pés, nas mãos, no pescoço,
Enfim, em cada ponto do seu território corporal (prazer garantido, ou seu dinheiro de volta!)
Deve amar abraçar e ser abraçado
Forte, tão forte que põe em dúvida a Lei de Newton sobre dois corpos não poderem ocupar o mesmo lugar no espaço
Exijo que goste de ler, de conversar, de olhar a lua e de comer bolo de chocolate com calda quente
Necessita apreciar um bom inverno
Ao pé de uma lareira regado a vinho tinto de boa safra
Ou ao sol, comendo bergamotas e lagarteando (não posso negar, sou gaúcha)
Pode gostar de qualquer gênero musical desde que não me desagrade, isso implica em dizer que se gosta de sertanejo ou música gospel aqui não é o seu lugar (desculpem-me os admiradores, mas gosto é gosto e não se discute!).
Deve ser gentil, educado e misterioso.
Mistérios são o tempero dos relacionamentos tanto amorosos quanto de uma simples amizade,
Detesto pessoas que não me surpreendam, positivamente é claro.
Assim, serial killers e psicopatas, longe de mim!
Ah, só mais um detalhe,
Detalhe não, advertência
Para entrar no meu mundo pense bem
Você deve ter muita certeza de que é isso que realmente quer, pois
Uma vez lá dentro,
Trancarei todas as portas e janelas
A prisão será perpétua...

sexta-feira, 11 de março de 2011

ALADIM

Quero dançar para ti, permites?
Por primeiro algumas regras
Apenas olha
Olha e queima
Queima e silencia
Silencia e grita
Grita e aguarda
Aguarda e terás
O quê?
Ora tudo que desejares
Mas pensa rápido
Logo, logo virarei fumaça
Recolhida para sempre
No breu da
Lâmpada de Aladim.

quinta-feira, 10 de março de 2011

PEDIDO

Quero o calor do teu colo,
O silêncio dos teus olhos
E a agilidade das tuas mãos
Para ter certeza
Que ainda há chão
Embaixo dos meus pés.

quarta-feira, 9 de março de 2011

CAIXA

Linda, enrolada em fino papel com direito a laço e tudo
Lá estava, faceira, em cima da mesa da sala
Dona do ambiente, atraía o olhar pelo seu colorido
Tudo em volta parecia embaçado e sem graça
Senhora absoluta das atenções
Reinava em meio aos misteriosos holofotes da curiosidade
O magnetismo intensificava-se
Até que ela, com peito arfante, jogou-se naquela direção
Desfez, rapidamente, o invólucro
Abriu-o extasiada
Deparou-se com sua imagem aprisionada
No espelho que habitava o fundo da caixa
O silêncio,
A que se seguiu o grito afônico,
Explicou, sem palavras,
A inusitada situação do autoconhecimento repentino.

terça-feira, 8 de março de 2011

IDEIA

Iniciou no Carnaval passado
Um olhar e uma ideia
Ideia fixa
Leve a princípio, com tom de brincadeira
Passando a se tornar densa e definitiva
Em meio a dolorosos processos de negação e reconhecimento
Após diversas lutas interiores
A ideia ousou sair e interpelar
Inicialmente sorrateira, posteriormente agressiva e invasora
Lançou-se à luz
Assustou e incentivou a curiosidade
Ganhou território e perdeu inúmeras vezes
E, após mais luta, estabeleceu-se
Tratativas e a resolução
“Vamos acabar com esta novela”
Concretização
E a ideia que era faceira e insinuante
Murchou quando adentrou na realidade
Apodreceu e morreu
O ciclo se fechou
“Relaxa. Foi bom”
Últimas palavras pronunciadas antes do total desaparecimento.

segunda-feira, 7 de março de 2011

MULHERES

A mulher de quinze está ansiosa para que a vida comece
Logo, logo entra nos vinte, certa que tudo sabe e plena de independência
Mentirosa ela.
Medos, inseguranças e dúvidas a atordoam.
Tem que ser boa em tudo que se apresenta
Boa aluna, boa profissional, boa de cama...
É praticamente onipotente
Treme por dentro, sempre querendo agradar a todos
E com ar de desdém e enfado de quem está agindo com a maior naturalidade
Joga somente para a torcida
Entra nos trinta,
Situação começa a melhorar
A ansiedade ainda existe, mas está mais atenuada
Já se colocou em alguns pontos da vida
Começa a ganhar território
Com o terreno tranquilo parte para o autoconhecimento
Ainda joga para a torcida, mas começa a perceber que o jogo também é dela
Assim começa a prestar mais atenção aos seus próprios lances
Buscando objetivos cada vez mais próprios
Mulher de quarenta
Delícia.
Sabe o que quer, como quer, onde quer
Com quem quer, de que forma quer, a que horas quer
Já entendeu, há muito, que o jogo é só seu, para o seu prazer
Torcida? Se não gostar que vá embora, não se importa
Quer vencer o jogo somente para o seu deleite
E vence.
Santa maturidade!


domingo, 6 de março de 2011

MÁSCARA-DE-FERRO

Paciência. Fazer o quê?
A sintonia deve estar ajustada para que a música soe clara.
O tempo mede o compasso.
O simples toque no dial para mais ou para menos põe tudo a perder.
S a b e r    e s p e r a r .
Aí está a dificuldade.
Sentir, desejar, querer e ter que respirar fundo.
Espantar pensamentos. Disfarçar ao tropeçar nas suas sombras.
Olhar em frente e, mesmo que a vontade seja de correr, caminhar com tranquilidade.
Rituais, dogmas, valores sociais pré-estabelecidos.
Até quando vamos deixar de sorrir por causa deles? Até quando vamos fenecer sob os seus domínios?
O normal seria rir quando o vento emaranha seus cabelos. Gritar quando algo lhe faz bem. Chorar quando se está triste.
Por que devemos carregar essa máscara que nos impingiram os sem-amor, os sem-vida?
Máscara-de-ferro do certo e do errado.

sábado, 5 de março de 2011

CARNAVAL

O barulho, que iniciara longe, estava cada vez mais próximo
Música, batuque, vozes, risadas vinham de mãos dadas pelo ar
Entravam, sem pedir licença, nos seus ouvidos
Sua cabeça começava a girar com a trepidação que o som lhe causava
Tentava seguir no mesmo passo mecânico e ausente,
Começava a perceber que não conseguiria resistir por muito tempo
A aura gélida, que levara tanto tempo para conquistar, começava a derreter
Não se lembrava de como o calor era agradável
Já sentia nos olhos um pequeno desajuste
Quanto tempo mais iria aguentar?
Os acordes agora já a envolviam, brincavam com seu corpo, faziam-lhe cócegas e caretas
Podia senti-los muito presentes
A respiração foi tornando-se comprometida
Os nós começaram a desatar
E a face artificial, tão vigoramente fixada no seu rosto,
Começou a dar lugar a sua real fisionomia
Já não podia mais falar, ver e respirar
Em uma golfada mais efusiva dos tamborins, surdos e cuícas,
O empecilho foi-lhe arrancado 
O colorido e a alegria invadiram-na
Pode sorrir e ser quem realmente era,
Sem máscaras,
Pelo menos, por alguns dias, até as cinzas novamente chegarem.


 

sexta-feira, 4 de março de 2011

SENTIDOS

Surgiu do fundo do poço
Havia escalado as paredes com unhas e dentes
Iluminada apenas pelo brilho dos vaga-lumes
Limpou o lodo que cobria seu corpo
Vestiu-se com a luz das estrelas
Fez-se brilhante, somente para teus olhos
Dançou pelas paredes, escalou o telhado, rolou pelo caramanchão
Cobriu-se de flores
Perfumou-se, somente para teu olfato
Espalhou o mel, que roubara das abelhas, por todo seu corpo
Fez-se saborosa, somente para teu paladar
Massageou a pele com gotas do orvalho
Fez-se macia, somente para teu toque
Entoou as mais belas canções,
Que o vento pacientemente lhe ensinara
Fez-se melodiosa, somente para teus ouvidos
Ansiosa, sentou-se na expectativa da tua chegada
As horas passaram, os dias passaram, os meses passaram, os anos passaram
E com o movimento em espiral
Ergueram uma forte moldura ao seu redor
Aprisionada, manteve-se ereta, impassível
E, sorrindo, fez-se parte integrante daquela tela
Somente para tua memória

quinta-feira, 3 de março de 2011

ÚLTIMA LUZ

A sombra se fez
E junto dela, o luto.
A dor da perda, na incompreensão de nunca se ter tido o domínio,
É debochadamente rubra.
O contraste com a tez pálida, dá a impressão de um abajur de pergaminho onde habita uma labareda domesticada.
Seguro a lágrima.
Não posso permitir que escape a última gota de luz branca presente nessa insensatez flamejante.

quarta-feira, 2 de março de 2011

INSISTÊNCIA

O sangue rola por sua face em forma de uma lágrima límpida, cristalina.
Pouco a pouco, vai esculpindo grossos sulcos por onde passa, devastando de maneira rude e triste aquele jovem rosto.
Pessoas passam e sequer percebem o seu desespero, pois o rubi que verte de seus olhos não pode ser visto por todos.
É o fim. Ela não entende porque ainda respira.
Por que ainda teima em roubar o ar que já não é mais seu?