sábado, 30 de junho de 2012

SATISFAÇÃO

Sentiu que a calmaria estava próxima.
As ondas diminuíam.
A tempestade perdia a força.
Os ventos sopravam mais fracos.
As nuvens já arriscavam
Uma coloração mais clara.
Suspirou de alívio.
Finalmente iria aplacar sua sede.
Bebeu, em largos goles,
O copo d'água até o final.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

LÁPIS

Pegou uma régua, um lápis
E traçou um milimétrico quadriculado
Sobre o corpo inerte da fotografia.
Localizou o local do coração
E perfurou com a ponta
Do grafite afiado
Até traspassar o papel.
Fixou a imagem no mural a sua frente.
Com a seguinte legenda:
AGORA ACABOU!
É, às vezes,
Só visualizando...

terça-feira, 26 de junho de 2012

PIROTECNIA

Pressentia a explosão
Há qualquer momento.
Sentou-se bem acomodada
Para presenciar o BUM final
Do ângulo mais privilegiado possível.
Assistiu tudo ir aos ares
Desde o início.
Levaria, para sempre,
A mecânica do estouro
Operando-se, vagarosamente,
De dentro...
Para fora...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

BRILHOS

Com um rodopio
Espraiou pingos
Em que múltiplas
Purpurinas estavam
Meticulosamente dissolvidas.
Caiu no chão, sorrindo.
A escuridão nunca mais a amedrontaria...
Que venha o ocaso! - gritou.
Não via a hora de testemunhar
A surpresa do breu
Quando se visse enfeitado
Dos inesperados brilhos.

domingo, 24 de junho de 2012

SUPOSIÇÃO

Estava ausente,
Talvez porque estivesse no limite
Da compreensão
De que era necessária.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

VIVA EU!

Pois é.
Mais um ano se passou
E eu nem percebi.


47 sejam bem-vindos!
Parabéns para mim!
E obrigada a todos vocês pela companhia!
Bjs no coração de cada um!
Gisa

quinta-feira, 21 de junho de 2012

NOSTALGIA

A nostalgia do início a invadiu como uma brisa boa.
Ainda conseguia senti-la.
Isso era animador.
Entendeu, com alívio,
Que tantos anos de sedimentos,
Chuva forte e poeira
Não foram capazes de lhe blindar
Ao frescor do novo-antigo primeiro olhar.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

ACONTECIMENTO

Sala escura.
Cena muda.
Ar e poeira.
Espaços condensados.
Corpos unidos.
Reações ausentes.
Massas de um mesmo bloco,
Concreto amalgamado,
De essências renunciadas.
Começo previsto.
Da explosão tanto tempo
Procrastinada.

terça-feira, 19 de junho de 2012

AUTODOMÍNIO

Fez as malas e partiu.
Foi em busca daquilo que sempre soube ser,
Mas sempre foi forçada,
Por ela mesma,
A negar.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

BOCADINHOS

Comia amoras bem devagar. 
Primeiro o A,
Depois o M, 
Seguia no O, 
Colocava o R na boca 
E degustava o conjunto. 
Parava.
Não queria mais, 
Estava satisfeita
Já tinha tudo para ser feliz

domingo, 17 de junho de 2012

NONSENSE

O dia era pesado, sem sol. As nuvens chumbo carregadas de água tomavam conta do ambiente. Ela, abatida, aguardava a chuva. Sentia que a umidade entrava por todas suas superfícies e, paulatinamente, ia sentindo-se inflar. Já não conseguia mais respirar livremente. Seus pulmões, encharcados com o ar molhado, tinham dificuldade de realizar a separação necessária. Seu ser crescia enquanto os poros,milimetricamente distribuídos por toda área cutânea aumentavam a captação. O corpo intumescido já não tinha mais posição confortável. A cabeça doía cada vez que ousava mexê-la. O líquido que disputava espaço na caixa craniana fazia um barulho insuportável. "Corpo-esponja". Gargalhou com o pensamento grotesco. Morreu afogada no riso fluído.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

OPOSTO


Hoje pretendo algo diferente do que venho fazendo. 
Ele me ofereceu este trabalho intitulado "O Palhaço" para que eu escrevesse o que sentisse diante dele. 
A ideia da alegria foi descartada de imediato por ser óbvia.
Tentei entrar na alma da imagem e tentei construir imagens a partir dela.
 Assim nasceu "OPOSTO" que agora ofereço ao Ricardo, agradecendo a oportunidade que me ofertou em trabalhar de mãos dadas com ele. 
Adorei. Espero que gostes.
Um beijo no teu coração
Gisa



PALHAÇO
Ricardo Alves - Blog Luz no Papel




OPOSTO

Sozinha,
Iluminada apenas pela luz branca plena
 voltou para casa.
À medida que andava,
Ia deixando pelo caminho
Suas feridas rubras de sangue,
Seus temores alaranjados de espanto,
Suas esperanças de um roto verde-encardido.
Os rastros de tristeza,
Ainda tentavam gravitar no seu entorno,
Querendo se agregar novamente
Ao conforto do corpo débil retraído.
Odiava retornos.
Espantava-os como podia
Na expectativa de que sumissem para sempre.
Nunca contou, no entanto,
Com a capacidade de transmutação das energias.
Expulsos e desnorteados
Os sentimentos desprezados rumaram para o alto.
Um após o outro
Unidos em uma única dor escarlate em forma de véu.
A aceleração,
Imediatamente oposta à gravidade,
Crescia a cada espaço ganho.
Foi com a explosão que tudo parou.
Quando olhou para cima
Viu a lua, antes cheia,
Dividida em duas
Sendo velada pelo sol
Que atônito tentava,
Inutilmente,
Recolher os destroços da amada
No lençol de ressentimentos dissolvidos
Estampado pelo sorriso vago e inquietante
Do susto.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

LÁPIS

O lápis impulsionava a mão inerte.
A necessidade de se expressar 
Era maior que as bobas leis de física 
Que teimavam em o reconhecer
Como um objeto,
Totalmente,
Inanimado.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

RUÍNA

De um instante para o outro
A onda entendeu que não tinha razão
De se machucar contra o rochedo.
Olhou para o lado e viu a praia.
Areias brancas,
Enfeitadas por conchas,
Languidamente deitadas
Ao intenso sol do verão.
Gostou da calmaria
E compreendeu o alegre convite.
Recolheu-se por inteira
Mudando de direção imediatamente.
O rochedo, estarrecido pela abrupta decisão,
Ainda tentou atraí-la,
Com seu ar enigmático
E sua altivez inflexível.
Tarde demais.
A previsão óbvia de concretizara.
Nenhum encanto resiste à indiferença.
Pouco a pouco
Cedeu à ruína.
Foi engolido pelo mar
Tendo como pano de fundo
A alegria da antiga amante
Divertindo-se com as novas amigas
Ao som do grasnar incessante
Das gaivotas.

terça-feira, 12 de junho de 2012

NOVATO

Vê se te comporta bem!
Vai lá, estreia.
Entra com respeito que os leitores merecem.
Chega de mansinho e envolve.
Sim, assim mesmo.
Aceita o carinho que os olhos deles te fazem.
Torna-te macio e ao mesmo tempo firme
Naquilo que expressas.
Posiciona-te.
Desfila.
Mostra os vários ângulos
Não esconde as entrelinhas!
São fundamentais na comunicação da mensagem.
Sim, existem as mensagens aparentes e as subliminares
Explora ambas com sensibilidade.
Vistes, uns já estão sorrindo,
Outros intrigados,
Ou desconfiados,
Mas acho que estão gostando da experiência.
Colore, vibra e enfeitiça.
Faz isso tudo ao mesmo tempo,
Sem descer do salto alto!
Pronto! Aprendes rápido!
Parabéns!
Quando chegares ao fim,
Não te assustes!
Não terminarás,
Pois serás levado para sempre,
De uma forma ou de outra,
Por todos aqueles olhos que um dia
Concordaram em te percorrer.
Agora é contigo.
Vou ficando por aqui.
Segue em frente sem medo.
Um beijo e boa sorte nos novos traçados.
Só não te esqueças do seguinte:
Sempre serás o meu doce
E querido poema!

domingo, 10 de junho de 2012

CUIDADO!

Sou uma armadilha, cuidado!
Atraio com as luzes da dança,
Hipnotizo com as sensações das palavras,
Sussurradas ou gritadas.
Causo calafrios de angústia e prazer,
Na medida certa da loucura desejável de cada um.
Seduzo enquanto livro-me de todos os sensos.
Lugares comuns, desprezo.
Sou inusitada.
Lido com o inesperado torpor dos cérebros,
Que conduz a um querer sem limites.
Gosto de ser incessante na minha busca por desafios.
Estou à solta espreitando-te.
Quando menos esperares darei o bote.
Mas não te iludas,
Nunca irei te querer para sempre,
Pois só me interessas na medida que te necessito
Para aplacar minha fome de auto-estima.
Depois de te devorar devagar, bem devagar,
Retornarei ao meu ponto inicial de observação,
Esperarei pacientemente e com água na boca
A chegada da desavisada e apetitosa
Próxima vítima.

sábado, 9 de junho de 2012

DESCONSTRUÇÃO

Necessito te desconstruir.
Tua altivez me fascina.
Retiro-a com cuidado
E a acondicino com todas as honras
No envelope pardo
Número um.

Tua boa formação de caráter me encanta.
Colho todos os teus princípios
E, separo-os com finas folhas de papel de seda 
Coloridas de acordo com o que representam
Fechando-os, ao fim,
No envelope pardo
Número dois.

Tua luta por ideais me comove.
Deponho tuas armas de um lado,
Mantendo-as sempre apontadas
Para os teus ideais
Do lado oposto.
Acomodo todos
Antes de lacrar 
No envelope pardo
Número três.

Pego todos os preciosos invólucros 
E dirijo-me ao penhasco sobre o mar. 
O primeiro ofereço ao sol altaneiro,
O segundo, aos firmes rochedos, 
O terceiro, ao bravio mar.
Assisto, sem chorar, cada qual ser incorporado
Ao teu natural respectivo.
Convencida de que fiz o melhor para os dois,
Desonero-te do duro encargo que te impingi
Com minha admiração doentia.
Leve, aceito passear com as gaivotas
No derradeiro voo sobre o horizonte.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

PODER

É chegada a hora de arrumar as caixas, tirar o pó, varrer os tapetes,  lavar o chão. Não posso viver para sempre nesta desorganização orquestrada por mim mesma, na tentativa de não perceber que a espera  é ilusória, pois o que foi jamais retornará. Devo escutar minha razão e entender o que se passou, efetivamente passou. Por que foi bom, não significa que terá reprise, ou continuação. A obra de arte tem valor por sua unicidade. Deixar a lacuna sempre  aguardando o preenchimento específico, impede de tentarmos novos encaixes, ou ainda de aparar algumas arestas com o intuito de modificar a própria lacuna. Quero ter coragem de honrar ao que me proponho. Quero um resto de dignidade para poder reorganizar tudo e ficar feliz com a nova ordem. Quero, sobretudo, que a compreensão chegue em mim como um todo e que o coração, diante de tais determinações, não revide. Só ele poderia estragar tudo.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

INVESTIMENTO

Começou semente.
Voou com o vento.
Aconchegou-se no chão.
Germinou com o calor da terra
E o frescor da água.
Fez-se planta
Viçosa, cheia de flor
Gerou o fruto
Doce e macio
Amadureceu fantasiando
A mão que a colheria.
Festejou o dia em que foi apanhada.
Não aguentava em si de tanta realização.
Olhada por todos os ângulos
Cheirada
Sentida
Foi arremessada a distância
"Está bichada!" - disse a voz.
Apodreceu decepcionada
Pelo fim absurdamente instantâneo
De um longo investimento.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

COMANDO

Deitou de bruços sobre o chão.
Rastejou, usando os antebraços,
Até a beira do buraco.
Olhou na direção do fundo.
Perdeu os olhos na imensidão escura.
Ficou segundos,
Como se hipnotizado
Pela ausência invasiva
Que teimava em sitiar seus sonhos.
Imediatamente inverteu a posição
E contemplou o céu.
Desde que dominou
A arte de rolar sobre si próprio,
Nunca mais permitiu
Que qualquer imposição determinista
Comandasse sua vida.

terça-feira, 5 de junho de 2012

PATOLOGIA

Patética!
Insuportavelmente cotidiana!
Comezinha!
Vaga e vã!
Piegas!
Sempre ponho tudo a perder!
Não sei me portar na tua presença!
Surges, e eu,
Perco a linha!
Imaturidade flagrante!
Patologia galopante?
Talvez sim,
Talvez não,
Talvez, talvez...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

OLHARES

Apagou as luzes.
Acendeu as velas.
Perfumou o ambiente.
Escolheu a música.
Dispôs as almofadas e tapetes,
Vinhos e aperitivos.
Banhou o corpo.
Envolveu a pele em finos cremes.
Penteou os cabelos.
Cobriu-se com sedas de suave toque.
Deitou-se no canapé.
Esperou-o até adormecer.
Acordou com o primeiro raio de sol
Que languidamente beijava seu rosto.
Enxugou a lágrima e respirou fundo.
O que não é para ser,
Simplesmente não é.
Saiu para mais uma rotina
Sem perceber ainda
Que pisava em nuvens
Ali depositadas por um novo olhar
Que buscava desesperadamente ser notado.

domingo, 3 de junho de 2012

MUDANÇA

Subiu à mansarda
Sentou,
Colocando-se na posição de lótus
Em frente à janela
De vidros coloridos.
Olhava a rua.
Divertia-se em ver a mulher azul,
Levar a criança amarela pela mão.
Ou em seguir o homem verde
Que passeava com um cachorro roxo.
Verificou que a medida que passavam
Diante de seus olhos
Imediatamente aderiam a uma nova cor
Pelo simples ato de caminhar.
Entendeu no mesmo instante
Que somente a ação leva à mudança.
Levantou-se e desceu as escadas rapidamente
Já livrando-se do seu vestido branco.
Não queria perder mais um minuto sequer.
Abriu a porta e saiu correndo
Gargalhava com as cócegas
Que as cores faziam ao
Aderir ao seu corpo transparente.

sábado, 2 de junho de 2012

COMPREENSÃO

Hoje eu vi a lua
Ela era redonda
Branca
Cintilante.
Hoje eu te vi na lua
Sorrindo,
Acenando,
Querendo.
Hoje eu chorei no chão
Porque não conseguiria chegar lá.
Hoje eu entendi
Que a distância é real
E o peso da alma,
Determinante.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

INTOLERÁVEL

Não te enganes,
Desconfia
Questiona
Debate
Briga pelo que achares certo
Prepara-te para os revides
Chumbo grosso.
Teimosia.
Má-criação.
Birra.
Gritos e choros,
(Devidamente orquestrados
Para o momento).
Se depois de tudo isso
Ainda me quiseres.
Vou te fazer a pessoa mais feliz do mundo,
Porque sei que mereces.