terça-feira, 31 de julho de 2012

CENA ÚNICA (reedição)

Uma sala, muita cumplicidade.
Fios cintilantes, que saiam dos olhos,
Criavam um liame mágico
Envolvendo-os como se fosse um casulo,
Esconderijo ideal,
Inexpugnável pelo mundo exterior
Que restava adormecido
Por acreditar na monotonia da tarde chuvosa.
Contemplação e mudez
Bocas atônitas, unidas e mãos ávidas, rápidas
Corpos sobrepostos, emoldurados pelo tapete felpudo
Sussurros, suspiros e gritos abafados
Sorrisos, muitos sorrisos
Autônomos,
Não necessariamente ligados aos lábios.
Reflexos do prazer que vertia de dentro dos umbigos
Escorria pelas pernas
Causando arrepios às borboletas que habitavam os estômagos
Saciedade e despedida.
Cena única, encantamento eterno
Vedado reedições.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

CORREDOR ESCURO (reedição)

A umidade condensava-se nas paredes de lajotas. Frias gotas pareciam brotar do inanimado. Lugar pequeno. Três portas apenas e um elevador antigo. Escuridão. No canto, uma escada estreita e sinuosa que levava ao andar de baixo. Pararam. Olharam-se. Sorriram e disseram banalidades. As palavras não ditas saiam por todos os poros que não conseguiam reprimir tamanha rebelião. Fogos fátuos começaram a se espalhar pelo ambiente. Queimavam-lhes os pés, os cabelos, os corpos de relance. A luz que vinha deles fez romper a labareda de dentro dos peitos. Aos poucos, começaram a derreter, sem que isso fosse percebido. O incêndio, pouco a pouco foi se alastrando. Apesar da disformidade, que já se estabelecia, palavras, ditas certas, continuavam saindo das bocas. Não podiam mais se mexer. Os corpos, derretidos, foram prendendo ao chão. Em pouco tempo, tornaram-se duas manchas amontoadas sobre o piso.

domingo, 29 de julho de 2012

JOÃO E MARIA (reedição)

João e Maria envoltos na bruma, vestidos de nuvens, ao som de “Hard Day's Night” viram-se pela primeira vez. O burburinho do local pairava acima das cabeças e os olhos trocavam palavras mudas, repletas de significados. Ficaram assim por algum tempo, até materializarem-se lado a lado. Como íntimos desconhecidos de longa data, teceram comentários insossos e vazios, meras escadas para o futuro imediato. Olharam a porta e, ao mesmo tempo, encaminharam-se a ela . Saíram e voaram sobre a cidade no tapete mágico que já os aguardava. Calados, envolveram-se e rolaram no prazer do desconhecimento. Despediram-se, com um “até nunca mais”, um sorriso e um beijo. Partiram para todo sempre em direções opostas. Desapareceram na linha infinita dos olhares vagos.

sábado, 28 de julho de 2012

STONEMAN (reedição)


Ritual dos mais enigmáticos do hermético mundo do ocultismo primitivo.
Quem se arriscar a praticá-lo, nos dias de hoje, deve ter extremo cuidado,
Em primeiro lugar deve-se localizar um Stoneman.
Tal ação é considerada tremendamente difícil, uma vez que existem fortes evidências da extinção dessa espécie.
Afirmam alguns cientistas, que ainda existe um único exemplar em algum lugar ao sul do Equador, mais precisamente, ao sul do Brasil, no entanto passa por períodos terrestres e períodos aquáticos.
Se você conseguir caçá-lo, e eu diria que vale a pena tentar, siga os seguintes passos:
1º) leve-o para algum lugar ermo, de preferência em alguma praia ou caverna. O Stoneman é considerado um ser que não convive facilmente com o mundo civilizado. Não é sociável e detesta lugares que tenham algum tipo de alvoroço, como shoppings por exemplo;
2º) coloque uma música agradável. –“Como?” – "Se você está em uma caverna ou praia?" - Ora vire-se, o problema é seu, mas tem que haver música. O Stoneman é sensível a uma grande variedade de gêneros musicais, a música embriaga a alma e talvez isso seja um bom começo para enternecê-lo e alcançar o seu intento final;
3º) bebida é fundamental! Essa necessidade surge tendo em vista as inexpugnáveis grades de conceitos, opiniões e ideias de rigidez incontestável que o cercam. O nome “Stoneman” é alusivo a essa indecifrável rede de convicções que o emaranha e que, na maior parte das vezes, o endurece de tal forma que não consegue se manter inalterável nas mais inusitadas situações. Assim, uma experiência etílica se faz tremendamente necessária, sem exageros é claro, sob pena de dormir ou esquecer o que se tem de melhor para fazer, ou, ainda, os dois juntos!
(Obs: aconselha-se que a quantidade deva ser superior a meia garrafa de um bom champagne, uma vez que exposto a essa quantidade conservou seu comportamento inalterado em experiências anteriores);
4º) faça uma oferenda à Vênus e a Eros. Sempre é bom manter os deuses a seu lado, ainda mais sabendo-se do fato do Stoneman ser avesso a qualquer coisa que lembre a Grécia, sobretudo a Zorba. Os deuses por desaforo podem ajudar você a obter o seu intento, acredite!
5º) a alimentação deve ser leve, uma vez que se você conseguir embarcar no carrinho que dá acesso à montanha-russa, que ele vulgarmente chama de “corpo”, se amaldiçoará de ter comido muito. Imagina-se, por enquanto, uma vez que as pesquisas não conseguiram comprovar até então, que o aludido carrinho levará você a experimentar sensações de inigualável gozo e prazer, com suas quedas e ascensões abruptamente indescritíveis! Fica a dica!
6º) vista verde! O Stoneman não é integrante do partido, no entanto é muito sensível a essa cor tendo em vista a sua alimentação favorita: saladas. Talvez, ao usar verde, ele possa confundí-la com uma rúcula ou agrião e, finalmente, devorar você por engano, mas você realmente não ficaria incomodada com isso, não é mesmo?

Se depois de cumpridos todos esses passos você não conseguir seu intento, não esmoreça! O mundo irá se acabar rapidamente e você nem sentirá nada, pois a sua frustração será tanta que tudo mais será bobagem!
Mas lembre-se sempre, querida amiga,  você vai sair dessa vida feliz pois pelo menos tentou realizar um dos rituais dos mais enigmáticos do hermético mundo do ocultismo primitivo!
Boa sorte!


Esta semana, decidi reeditar alguns posts que me são especiais. 
Espero que gostem.
Um bj
Gisa

sexta-feira, 27 de julho de 2012

CORES

Nova etapa.
Preciso escolher
As tintas e
Os pincéis
Com os quais
Pretendo colorir
Minha história
A partir daqui.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

FLOR

Quero te dar uma flor em botão.
Deves regá-la,
Todos os dias,
Com gotas de amor.
Expô-la à luz do teu carinho
Abrigando-a sempre
Dos ventos mais fortes.
Um dia, irá desabrochar
Em meio a dança
Que só as flores conhecem.
Senta e aprecia
A magia das pétalas,
Que como véus,
Abrirão uma após a outra.
No miolo estarei eu
A te esperar.
Vem.
O leito é quente,
Macio
E perfumado.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

EXORCISMO

Não podia mais viver assim.
Pegou a escada
E arrombou o alçapão
Que dava para o telhado.
Subiu.
Espantou os morcegos e ratos.
Procurou nas caixas a etiqueta certa.
Encontrou.
Assoprou o pó que havia sobre ela.
Abriu devagar.
A figura que surgiu era débil, translúcida.
Teve pena, mas não poderia se comover.
Recolocou a tampa
Carregando-a, com cuidado, para baixo.
Acendeu a lareira.
Dispôs o guardado sobre o fogo.
Viu queimar até o fim.
Olhou para seus pulsos.
As algemas que a atordoaram tanto tempo,
Foram sumindo pouco a pouco,
Até desaparecerem por completo.
Respirou aliviada.
Estava livre, finalmente.

terça-feira, 24 de julho de 2012

PRAGA

Que a inveja esbugalhe teus olhos.
Que a luxúria expluda teu sexo.
Que a gula deforme tua boca.
Que a preguiça entreve teu corpo.
Que a avareza enrijeça tuas mãos.
Que a ira incendeie teu sangue.
Que a vaidade dilacere teu coração.
E se ainda assim,
Arremedo de pessoa,
Conseguires te mover, respirar e pensar,
Aconselho-te que vás diante
De um espelho
E verifiques ponto a ponto
Tua estranha figura.
Fixa a imagem rápido,
Para nunca mais esqueceres
Os porquês do teu recolhimento
Pelas almas sem par,
Ao infinito do nada.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

VIAJANTE

De malas prontas,
Entro nos teus olhos.
Acomodo-me,
Confortavelmente atrás
Das tuas íris.
Dali terei uma visão,
Privilegiada.
Onde irás?
O que verás?
O que farás?
Não sei.
Surpreenda-me!

domingo, 22 de julho de 2012

VESTIDO

Saiu do lago portando
Seu mais lindo vestido d'água.
Sua tez clara confundia-se com
Os vibrantes reflexos
Que o líquido, em contato com o sol,
Produzia em seu corpo desnudo.
Dançava, espraiando pequenas gotas
Que se libertavam da vestimenta
Com os intensos movimentos compassados
Ditados pela música,
Inaudível aos comuns.
Sorria a tudo e a todos
Que a admiravam
No silêncio estupefato
Próprio daqueles
Que não poderiam tocá-la.
Desgraçadamente sabiam
Que a impureza dos toques
Jamais atingiria a pureza
Da inusitada veste
Que tão elegantemente envergava.

sábado, 21 de julho de 2012

HÓSPEDE

Nunca poderia imaginar,
Mas assim aconteceu.
Garantiu-me.
Um belo dia,
Jogou-se na piscina azul-esverdeada.
Fazia calor.
Nadou, boiou, mergulhou
E, em meio a muita brincadeira,
O encontrou.
Vinham de lado opostos,
Cada qual nadando a seu jeito.
Olharam-se por entre a água,
Uma vez que submersos estavam.
O mais tudo ocorreu muito depressa.
Contou-me ela que sentiu-se um pouco tonta,
Desnorteada pela cor daqueles olhos,
Tão viva, tão franca, tão magnética.
Foi, sem saber como, que se sentiu sugada,
Praticamente engolida,
Pelo dito olhar.
Quando deu por si,
Nadava em um líquido vermelho, espesso.
Percebeu seguir caminhos estreitos e sinuosos.
Quando chegou, finalmente ao destino,
Encontrou um amplo cômodo,
Decorado com simplicidade e capricho.
Ambiente delicioso, aconchegante,
No qual o alegre som de uma força vital,
Se fazia ouvir de quando em quando.
Resolveu instalar-se com ânimo definitivo.
Da piscina levantou-se só ele,
Rumando para a casa sorrindo.
Adorava saber que ela tinha aceito seu convite.
Sabia da responsabilidade que teria
A partir daquele momento.
Afinal, não é todo dia
Que se encontra alguém
Para habitar o local mais importante da sua vida,
Sorriu em pensar na sua hóspede
Confortavelmente aconchegada
No ventrículo esquerdo do seu coração.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

COLA

Desfez-se em milhares de pequenos cacos.
Virou nada.
Com muita calma
Reuniu todos os fragmentos
E encerrou-os do calidoscópio.
Sentou-se, confortavelmente,
Na poltrona em frente à janela.
Levou o objeto ao local dos olhos,
Agora ausentes.
Girou, girou, girou...
Parou maravilhada com a nova figura.
"Esta", pensou com a força de um grito,
Se boca ainda possuísse.
Retirou um a um os diminutos pedaços
Do instrumento encantado.
Foi ao armário do canto.
Pegou o frasco onde se lia:
"Cola vida".
Voltou.
Com um pincel
Começou a construção,
Seguindo, à risca o novo modelo eleito,
Em torno da energia que nunca sumiu.
Terminou e foi conferir o resultado no espelho.
"Perfeito!"
Adorava poder nascer de novo.
Um dia teria que parar com isso,
Sabia.
Olhou para o vidro da cola e concluiu:
"É, mais umas duas ou três vezes vai dar..."
Guardou todo material e saiu para a rua.
Não via a hora de exibir e experimentar
Seu novo eu
Na brisa da tarde.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

MIMOS

Oferecia-lhe pequenas doses de mimos,
Diárias.
Estas vinham em diminutos frascos coloridos
Em formas de doces palavras.
Bebia uma a uma
Com sofreguidão,
Até certo ponto,
Incompatível com a delicadeza
Do presente.
Tinha pressa em se recuperar.
Ele entendia e sorria.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

QUEDA?

O céu abriu
E ela foi-se,
Em queda livre,
Tendo o chão
Como limite
Cada vez mais distante.
Ainda bem...!

terça-feira, 17 de julho de 2012

DECISÃO

Bordou o silêncio
Com gotas de saudade.
Arrematou o avesso com 
Beijos lânguidos.
Tingiu o resultado
Com esmeraldas 
Recém encontradas
Na esperança recolhida
Em tanto tempo
De solidão.
Do resultado,
Cortou o manto
Em que envolveu 
Seu corpo desnudo.
Subiu no ponto
Mais alto que pode.
Aguardou,
Esperou,
Ansiou,
Adormeceu,
Sonhou
E
Transcendeu,
Desfaz-se em 
Névoa perfumada
Partindo, com determinação,
Para buscar
O que sempre tivera querido
Mas sempre lhe havia faltado coragem
De  admitir....

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Buscou a escada correndo
E a apoiou no céu azul tênue
Do início do amanhecer.
Subiu, cuidadosamente cada degrau,
Chegou no topo
Comemorando a etapa vencida.
Tirou do bolso um lápis.
Desenhou, com muito capricho,
Uma janela simples.
Abriu-a por completo
Debruçando-se sobre as flores
Que nasciam coloridas
Nos pequenos vasos logo abaixo.
Esperou o sol apontar seus primeiros raios.
Aplaudiu o espetáculo
Diante do estupefato astro
Que jamais poderia imaginar
Ter uma fã tão fiel!

domingo, 15 de julho de 2012

ACORDES

Ao ouvir os primeiros acordes
Levantou-se e escalou a pauta.
Dançou entre fás e mis,
Sem pudores.
Enfrentou os dós e rés,
Com coragem.
Brincou com os lás e os sis,
Gargalhando.
Encontrou-se com o sol
E suspirou em sustenido.
Bem que a clave a havia avisado...
Ele nem a notou...
Acabou-se frustrada
Chorando em bemol.

sábado, 14 de julho de 2012

LIMPO

O que sentia era puro.
Decidiu aposentar seus feitiços.
Prometeu nunca mais usar
Seus poderes.
Queria conquistá-lo
Sem qualquer subterfúgio.
Sendo apenas o que era.
Simplesmente isso.
Pela primeira vez na vida,
Entendeu e aceitou,
Que se não fosse para ser
Não quereria...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

IMPERATIVA

Quero roubar teus sonhos
Para saciar meus delírios.
Quero aproveitar teu corpo
Para satisfazer meus caprichos.
Quero entrar na tua vida
Estabelecendo-me,
Sem qualquer cerimônia,
Com ânimo definitivo.
Precisas de mais alguma informação,
Ou já estamos conversados?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

PARABÉNS

Há dezesseis anos
Recebi um presente
DUPLO!



VALÉRIA


ISABEL

E virei uma mulher mais do que realizada!

Parabéns minhas filhas, pelo dia de hoje!
Obrigada por serem estas filhas maravilhosas que vocês são!
Amo muito vocês!
Muitos beijos
Mãe

quarta-feira, 11 de julho de 2012

ATRAÇÃO

Olharam-se,
Cada qual do seu lado do oceano.
Prestaram atenção aos detalhes,
Trejeitos, sorrisos,
Maneiras, mal dissimuladas,
De dizer sim.
Foi no mesmo instante,
Que escalaram a primeira nuvem,
Depois a segunda e a terceira.
Pararam.
Conferiram mais alguns aspectos.
Entenderam o acerto da escolha.
De um salto,
Lançaram-se nas ondas brancas.
Nadaram impelidos
Pelo magnetismo mútuo.
Encontraram-se no rochedo limite
Entre os dois mundos.
Entregaram-se com suavidade,
Sob os últimos raios de sol
E aos aplausos eufóricos
Das primeiras estrelas.

terça-feira, 10 de julho de 2012

ETAPA

Os olhos cristalizaram-se
Na pureza da dor.
Pendia da boca um filete de sangue
Do mesmo tipo que, um dia,
Passeara por todo seu ser,
Em forma de energia.
O corpo, débil e rijo,
Despertava ternura.
Olhou fixamente,
Como se quisesse guardar a lembrança.
Saiu rumo ao horizonte,
Ansiando por saber
O que lhe esperava
Naquela nova etapa.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

MANHÃ

Acordou e correu
Para abrir as janelas.
A manhã estava linda!
Céu esmeralda cintilante
E sol plenamente rosa pink!
Envergou seu mais novo
Vestido de borboletas coloridas
E foi brincar de furar
As fofas nuvens amarelas.
Adorava vê-las rir
Desmandondo-se
Em cócegas de purpurina!

domingo, 8 de julho de 2012

CONFORMISMO

Estava triste.
Ingressou cabisbaixa
No quarto que ostentava
O nome do desolador sentimento
Estampado na porta.
Sentou-se no canto
Escuro e úmido
Para aguardar.
Um dia, a felicidade
Percebendo a sua falta,
Haveria de querer resgatá-la.
Dormiu chorando
A espera.

sábado, 7 de julho de 2012

PASSEIO

Entrou na bola de cristal
E começou a andar
Por sobre as águas.
À medida que o globo girava
E o sol incidia sobre as gotas,
O mundo inteiro se iluminava
Com inúmeros arco-íris.
Por onde passava
Podia ver pessoas sorrindo,
Outras acenando timidamente.
Pequenos agradecimentos velados
Pela fugaz alegria que sentiam
Antes de seguirem suas sufocantes
Rotinas cinzentas...


sexta-feira, 6 de julho de 2012

PRIMAVERA

O vento frio levou as folhas.
Os galhos, envergonhados pela nudez,
Balançavam freneticamente na esperança
De não serem desvendados
Pelo olhar meticuloso de tantos.
Quanto tempo ainda levará a primavera
Para se aprontar?
Mulheres! Quanto mais se precisa delas,
Mais desdenham!

quinta-feira, 5 de julho de 2012

VOLTA

Tudo bem,
Conseguiram me explodir.
Meus estilhaços
Estão em plena ascensão.
Tolos!
Daqui de cima,
A visão tornou-se mais completa,
Tendo em vista os múltiplos ângulos
Que cada pedacinho de mim passou a ter.
Planejarei muito bem a hora da queda,
Pois a lei da gravidade nunca falha.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

DÚVIDA

Enquanto seu rosto sorria, com descaso,
Suas lágrimas vertiam silenciosamente para dentro.
Havia, finalmente, dominado a arte
Da dissimulação de sentimentos.
Teria mesmo valido à pena?

terça-feira, 3 de julho de 2012

BRINCADEIRA

Quando acordou percebeu a mudança.
Blocos de concreto a prendiam ao chão.
Sorriu com a inexperiência do cotidiano.
Como poderia realmente crer que isso
A impediria?
Tirou a alva camisola e abriu os botões.
Preocupou-se em deixar
A casca preenchida com os travesseiros.
Assim,
Levaria algum tempo para perceber o ocorrido.
Saiu pela porta com cuidado.
Não queria se atrasar para
Sua brincadeira favorita,
Pega-pega
Com sua grande parceira de todas as horas
A vida!

domingo, 1 de julho de 2012

MOSTRA

O cursor pulsava na tela branca.
Necessitava passar a mensagem,
Mas como?
Pensou em várias palavras
Descartando-as uma a uma,
Ora por inexpressividade,
Ora por excesso de consistência.
Piscando, piscando, piscando
O tracinho ameaçador a desafiava.
Era como se dissesse:
"Vamos, estou sem paciência!"
Ou ainda:
"Tenho mais o que fazer, não enrola!"
De um impulso fechou o computador
Arremessando-o contra a parede
Onde se estilhaçou em mil pedaços.
Como foi bom mostrar à tecnologia
Quem de fato manda!

CARTA

Vamos esclarecer pois
Os "is" têm pingos.
Aos "os" e "as" acrescentam-se "hs"
Para denotar espanto ou satisfação.
Os "tics" necessariamente 
Vêm seguidos dos "tacs"
Mostrando que as horas passam
E que talvez o "bum" seja ouvido 
A qualquer momento...
Assim, estabelecidas essas regras
Quero te dizer
Que com todos os  
"Ohs!"
Sempre terei muitos
"Ahs!"
Contigo.
E não importa a pressa dos
"Tics!"
E dos
"Tacs!"
Os 
"Bums!"
Entre nós 
Serão mais do que certo.
"Is" pingados
Despeço-me
Um
"SMACK!"