sábado, 30 de agosto de 2014

DEVANEIO

Em voo rasante surgiu sobre o mar.
Mergulhos profundos lançou-se a dar.
Molhada, cansada, na praia feliz,
Fundiu-se c'a areia afinal, meretriz.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

DEPRESSÃO

Do bum criou-se o caos.
Notícias rodavam
Naquilo que havia sido,
Um dia,
Sua cabeça.
Queria submergir 
A todo custo.
A superfície não era mais
Para ele.
Enterrou-se, como pode,
No lodo do cotidiano.
Quieto, ficou a espera do pior.
O melhor jamais retornaria,
Jamais...

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

CORES

Na dança das cores o vermelho gargalha.
O azul, zen e discreto, espalha seu ar blasé pelo entorno.
Cheio de vida, o amarelo ilumina todos os pontos
Em que o preto, carrancudo, insistia em encobrir.
O branco, coberto de paz, tenta organizar a festa.
Desliza, com seu manto luminoso, e vai recolhendo,
Uma a uma das agitadas amigas coloridas
Recolhe-se à lua,
Até o próximo amanhecer.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

HÁVERÁ?

As palavras tentam
Acalantar o vazio.
Esforçam-se, ao máximo,
Para colorir as almas distantes.
Os corpos,embalados na dança
Ditada por elas,
Ficam ora embevecidos,
Ora elétricos 
Obedecendo
Aos diversos pulsares contrários
Que pairam nos ares e sobre os mares...
Enquanto isso ela vive,
Enquanto isso ele vive,
Sem expectativas mais.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

CORTES

Quero te acarinhar,
Sei que não posso.
Sonho passear contigo.
Sei que não posso.
Gostaria de apenas sentar,
Quietinha, e te ouvir.
Sei que não posso.
Realidades distantes,
Vidas mutantes,
Destinos errantes.
Uma pena, mas...
Sei que não posso.

sábado, 23 de agosto de 2014

CICLO

Gestou a paz
Pariu a guerra
Criou a dúvida
Compartilhou o sonho
Envelheceu a dor
Morreu a vida.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

TERNO

Buscava o infinito.
Percorreu rios, ruas e ares
Avistou, ao longe, 
Algo que parecia ser sua sombra.
Entusiasmou-se.
Intensificou a caminhada,
Não poderia perdê-lo de vista!
A perseguição 
Brincou os minutos,
Viveu os dias, 
Atravessou os meses,
Arrastou os anos...
Exausta parou de súbito.
Sentou-se entre o desespero
E o cansaço.
Adormeceu sem perceber
Que o infinito, enternecido,
A tomara nos braços
E, neste exato momento,
Embalava-a ao som
Da mais bela
Canção de ninar.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

IMPORTANTE

Feliz, na ponta dos pés dança!
Flutua por entre a cortina de pétalas
E termina em um lindo arabesque
No meio do lago.
Ama-se mais do que tudo!
E é somente isso que realmente importa.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

COMEÇO

No cume do telhado
Colhia estrelas.
Escolhia ora a maior,
Ora a mais brilhante,
Ora aquela que tinha dificuldades
Em enxergar.
Guardava-as cuidadosamente
Na cesta de vime
Coberta pelo lenço de cambraia bordada.
Encerrada a tarefa correu
Para o estreito caminho
Salpicando-as, aqui e ali.
Deveria se apressar,
Sabia que ele logo chegaria.
Despiu-se de todos ornamentos 
E colocou-se no centro da tela,
No exato momento em que a porta bateu.
Tremeu quando sentiu o foco dos olhos curiosos
Observando aquele quadro,
Cheio de luz própria, que não estava
Na parede quando tinha saído pela manhã.
Ambos sorriram o que talvez se tornasse
Um novo começo.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

ESPERANÇA

A neblina densa
Bloqueia minha visão.
Fico aflita para tentar vencê-la.
Ando, corro, fujo
Naquele interminável branco,
Que parece se divertir
Com meu desespero.
"Quero sair!" - grito sem resposta.
Nem o eco ousa tamanha imersão.
Cansada de lutar, deponho as armas.
Quem sabe com a minha desistência
Ela se desinteresse e vá?
Encolho-me, como posso no canto,
No afã de não ser percebida.
Ela irá.
Acredito sem dúvidas.
Em algum momento,
Ela irá.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

GOLPE

Quando deu por si
Havia apagado.
No breu do ambiente,
Tentou, em vão,
Retomar a luz levada.
Não sabia que direção tomar,
Não sentia mais o impulso
Necessário à recomposição
Do perdido.
Pensou em um plano.
Deixou-se ficar imóvel e muda.
Poderia valer-se do elemento surpresa
E recuperar o que lhe foi surrupiado.
Para tanto, precisava que acreditassem
Que havia desistido para sempre.
Sorriu internamente quando 
Percebeu que ele se aproximava 
Curioso...

domingo, 17 de agosto de 2014

SEDUZÍVEL

Fico na espera da imagem mais bela.
Observo com cuidado todos os ângulos.
Cada vez que me decido por um,
Outro exibe mais os seus encantos
E acaba arrebatando-me o olhar.
Nova verificação se impõe,
E mais uma,
E mais outras.
Suspiro diante da constatação
Que sempre assim será.
Fazer o quê?
Sou seduzível...

sábado, 16 de agosto de 2014

BONECO

Pensas que me vês.
Imaginas que me conheces.
Divirto-me com tuas certezas
E conclusões absolutas
A meu respeito.
Sorrio docemente e digo:
"Isso meu querido! 
Como aprecio a tua perspicácia!"
Controlo-me para não gargalhar.
Nesse caso, 
Sempre será melhor 
A ignorância! 
Sempre...

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

TARDE

Da cor dos telhados,
Surgiram os cabelos.
O azul das águas 
Transmutou-se em olhos.
A boca pintou-se com o carmim do fogo
E do moreno das cascas das árvores
Fez-se o corpo.
Concretizou-se plena e fresca
Salpicada de orvalho.
Seguiu bela rumo ao ocaso.
Tarde mansa,
Tarde pura,
Tarde...

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

PLANO PERFEITO

Dissimula teus olhos,
Que eu dissimulo meu sorriso.
Esconde teus planos,
Que eu escondo meus desejos.
Falseia tuas palavras
Que eu falseio minha compreensão.
Finge o teu descaso
Que eu finjo a minha indiferença.
Segue teu caminho
Que eu sigo a minha rota.
Ninguém se aperceberá quando
Desaparecermos, 
Praticamente indiferentes,
Na barulhenta multidão...

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

DESDÉM

Na ponta do caco
Ainda conseguia ver
O que havia restado
Da antiga imagem.
Arrumou-se como pode
Escolheu, no fundo mofado
Da caixa cinza,
Guardada com desleixo
Embaixo da cama,
O menos roto sorriso,
Envergou-o com decisão.
Aprumou-se.
Saiu da maneira que estava.
Leve, flutuou por entre os véus.
Não olhou para trás.
Agora, só existiria o futuro.
Ainda bem!
Passado e presente,
Humiliados,
Choraram com seu desdém.