sábado, 14 de janeiro de 2012

ÂNCORA

Habitava dois mundos. Sempre achava fácil o transporte entre eles. Costumava ir e vir quando bem entendia. Aproveitava as benesses ora de um e ora de outro. Enfrentava os problemas sem se preocupar em qual chão pisava. Seguia sempre em frente até solucioná-los. Era feliz assim. Conhecia palmo a palmo as estações, os horários das partidas e das chegadas. Levava a vida tranquila nessa pressa inusitada a que se impunha. Com o passar do tempo, começou a perceber algo curioso estava se tornando cada vez mais frequente. Os trens das idas seguiam regulares. Sempre que os queria estavam a sua disposição. Embarcava e fazia a viagem sem maiores problemas, mas o mesmo não acontecia com os trens da volta. Passava horas na estação os esperando. Não obedeciam as escalas de partidas e estavam cada vez mais escassos. Sentada na mala, em uma dessas ocasiões, começou a desconfiar que a decisão estava prestes a ganhar a batalha contra a incerteza. A âncora deveria ser lançada e o itinerário  encerrado.

O trem ao longe, quase translúcido, apitou triste, mas de forma afirmativa.
Sabia que estava percorrendo a acentuada curva pela última vez.

13 comentários:

Breve Leonardo disse...

[quando a imagem do mundo vai ficando desfocada e descontínua,

a palavra sugere um outro final, âncora afinal]

um imenso abraço, Gisa

Lb

Rogério G.V. Pereira disse...

SEM ÂNCORA

Teu texto me faz pensar
nesse meu gosto
e facilidade de viajar
Meu meio de transporte
é o que for
e acontece-me ser
o do momento
Já usei muitas vezes o barco,
outras, a caravela
de branca vela
e até uma jangada
Já usei a barcarola...
É que no sonho vou,
sem escolha
do meio que me embarcou
O destino
é quase sempre ignorado
só o conhecendo quando lá chegado
A hora de partida
é, igualmente, desconhecida
ao contrário da chegada
que tem sempre hora marcada
Onde vou não tem amarra
nem lanço o ferro
única precaução para
assegurar o regressar
Regresso sempre do sonho
até ao dia
em que parta
para não mais regressar
(A vida também não tem
ancora e partimos sem esperar)

Sandra disse...

Vim retribuir o seu carinho.
Obrigada pelas visitas. Sempre tão gentil..
Vim entregar meu presente. Espero que goste. Passe na Curiosa e verás o que é.
UM BRINDE A TODOS NÓS QUE FAZEMOS PARTE DESTE UNIVERSO VIRTUAL. ESTOU CONQUISTANDO COM MUITO CARINHO 22MIL VISITAS NO BLOG. SABEMOS QUE AS CONQUISTA DEPENDE UM AO OUTRO.
MUITO OBRIGADA PELA PACIÊNCIA...AMIZADE..ALEGRIAS..CARINHO
Sei que muito temos para dizer, mas o mais importante é agradecer por tudo, pela VIDA. Obrigada por VOCÊ existir e fazer parte de a minha vida.
Obrigada Senhor pela nossa amizade. Mesmo virtual tem um significado muito grande, E ESPECIAL, porque ultrapassa as fronteiras das telinhas, envolve os corações, nos encantam e nos faz feliz e sermos o que somos..Simplesmente amigos para Sempre...
Muito obrigada amigo(a), por fazer parte do meu circulo de Amigos.

MARILENE disse...

É, Gisa, sempre chega uma hora em que a âncora se torna necessária. Importante é percebê-la.

Bjs.

Jose Manuel Iglesias Riveiro disse...

Me gusta tu forma de escribir, tu forma de presentar las ideas y los sentimientos es muy especial, se sale de lo común, eres única.
La vida intenta siempre moldearnos, llevarnos por sus derroteros, nos abre puertas nuevas y nos cierra otras ya conocidas.
Deseo que las puertas que hemos cruzado no nos la cierre, o por lo menos luchare para que eso no ocurra. Quiero seguir en este sueño, compartirlo, que no se acabe.
Un dulce beso.

Paulo Francisco disse...

CarambA! estacionei e esperei.
Muito bom.
Um beijo

OceanoAzul.Sonhos disse...

Ancoraste-me neste texto. Magnifico, Gisa!

beijos
cvb

Dilmar Gomes disse...

Amiga Gisa, acho que todos nós, poetas ou não, habitamos dois mundos; o mundo real, concreto e objetivo e o mundo das idéias, dos sonhos e da criação.
Um abração. Tenhas um lindo fim de semana.

Anônimo disse...

Gisa, estou ancorado nesse texto. Tão bem escrito e imaginado que não conheço adjetivos à altura do mesmo. Todos adjetivos que conheço se sentiram muito fracos perante a classificação da sua postagem.
Parabéns, Gisa.
Beijo com carinho.
Manoel.

Marinha disse...

"...começou a desconfiar que a decisão estava prestes a ganhar a batalha contra a incerteza." Quando isso acontece, não adianta tentar retardar a ação. Às vezes, desconfio que são as certezas que impõem o tempo para nós e não vice-versa.
Uma ótima semana pra ti, amada.

Poliana Fonteles disse...

Adoro histórias com trem... me remete ao antigo, ao doce, ao belo
adorei o blog!!!

Carla Ceres disse...

Fiquei meio triste. Não gosto de ancorar. rs Beijos!

Vanessa Souza disse...

Habitar apenas um mundo deve ser uma espécie de prisão...