quarta-feira, 24 de agosto de 2011

HÚMUS

Vestiu-se de negro
E chorou seu luto.
Dias e meses se escoaram
Sem que sequer notasse.
Dentro da clausura,
Que ela mesma se impingiu,
Havia pouco espaço.
O ar, abafado e úmido,
Exercia poderes estranhos sobre ela.
Seus movimentos restavam
Cada vez mais tolhidos.
Não ligava.
Passado algum tempo 
E tomada por um pensamento estranho,
Começou a ter uma necessidade
Inexplicável do sol que 
Entrava pelo pequeno orifício superior do cômodo.
Queria alcançá-lo a qualquer custo.
Foi espregiçando-se, lentamente, 
Rumo ao teto
Que se deu conta da transformação.
Surpreendeu-se ao perceber que
Havia, finalmente, germinado e renascido
Nutrida apenas pelo húmus 
Da sua antiga casca.

12 comentários:

Paulo Francisco disse...

Assustadoramente lindo!
Um beijo grande

Rogério G.V. Pereira disse...

Com o ancinho
removeu as pedras
que supôs
lhe poderem impedir o caminho
Removeu, amolecendo, a terra
que sachou
retirando dela
ervas daninhas
que por ali encontrou
Era necessário
que após a germinação
tivesse a melhor sorte
crescendo e florescendo
bela e forte

Se a flor aparecer assim
tal se deve a mim
que sei o segredo
de onde as flores chegam
crescendo tantas vezes a medo

Flor de Jasmim disse...

Gisa
Arrepiei!!! Gostei imenso.
Beijinho

Zeca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rebeca Estrela disse...

Realmente estou arrepiada, deu para sentir as palavras, e seu significado, muito bom, parabéns.
Se superando a cada post!
Beijoos.

Catia Bosso disse...

Flutuei em cada verso...


bjs meus

MARILENE disse...

Mostrou em versos a capacidade de reprodução, quando ainda existe vida.
Bjs.

Anônimo disse...

C'est joli. On se sent transporté.
Bonne journée, Gisa!

Ricardo e Regina Calmon disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Marinha disse...

Renascer implica em esgotar todas as fases, inclusive o luto. Teu texto é forte e cinematográfico, Gisa! Frequentemente consigo visualizar o que tuas palavras descrevem.
Bjo, querida.

Rart og Grotesk disse...

Interessante poema, no início achamos uma coisa, e no final, a verdade é revelada!!

Hugo Nofx disse...

Incrível Gisa! Os meus olhos brilharam com este texto.

Como curiosidade, uma das obras mais fantásticas da literatura portuguesa (para mim) é o "Húmus" do Raul Brandão. Eu amo esse livro.

Mil beijos.