sexta-feira, 16 de setembro de 2011

GAYA


Em meio ao ardente flerte e tostados pelo voraz sol do balneário sentiram a areia abrir-se sob seus corpos nus e tragados foram por Gaya. Durante a terrível e assustadora queda uniram-se como puderam. Mãos e pernas procuravam-se no afã de segurança. Totalmente tomados pelo desespero caiam cada vez mais rápido e, em questão de segundos, amparados foram pelo grande e suntuoso leito que os acolheu em pleno ar, aterrissando calmamente no estranho do ambiente.

Olharam-se e olharam em volta. Espelhos por todos os lados fechavam o espaço arredondado em que tochas serviam como iluminação. O ar irrespirável abrilhantava o cenário com sua terrível sensação claustrofóbica. A brancura dos lençóis era um ponto de luz, considerando a cor vermelha escura que imperava. De cada espelho surgiu um rosto com uma expressão. Apavorados os amantes tentavam se cobrir mutuamente. O que queriam? Quem seriam? Sem respostas imediatas, esperavam mudos.

O ar carregado os deixava zonzos e amolecidos. Aos poucos iam intuindo o que deveriam fazer. O contato dos corpos fez surgir a excitação carregada pelo medo. Desnudos e quentes voltaram a se descobrir avidamente, sem se importar com o resto. Algo lhes dizia ser esta a regra incomunicável até então. Em colados e besuntados beijos uniram-se diante de todos. As mãos dela deslizavam incessantemente pelo corpo dele, procurando-lhe explorar todos os redutos, enquanto ele afagava-lhe os cabelos, descendo pelas costas. O frenesi reinante era característica daqueles que muito se desejam. Embevecidos um pelo outro, já não se intimidavam mais com os olhares do entorno que, curiosamente, seguiam aumentando.

Ele deitou-se impassível e ela colocou-se de joelhos entre suas pernas levemente abertas a fim de melhor explorar-lhe o corpo delicadamente com a língua e com as mãos. Iniciou as carícias pelo rosto, pescoço, mordiscando-lhe a nuca e deixando seus seios na altura da boca do amado que os sorvia delicadamente. Descendo, deliciou-se no forte peito, brincando-lhe com os pelos e arrepios, enquanto ele emaranhava seus dedos pelos longos cabelos que ela lhe oferecia. Continuando sua trilha, desceu-lhe entre beijos e lambidas pelo ventre, sorvendo-lhe longamente o umbigo causando-lhe a a reação de puxar-lhe os cabelos, que trazia nas mãos como rédeas, a ponto de direcionar o melhor gozo. Deliciava-se em dar-lhe prazer, tremia por isso. Queria tê-lo como parte dela, ansiava em ser dele. Nada mais importava. Quanto aos olhares? Que olhassem!

Ergueu-se e, em movimentos giratórios compassados em cima do parceiro deitado, fez-se dele gozando a cada centímetro de avanço. Comandou o ritmo, acelerando e reduzindo, conforme a necessidade pedia. Fremia com o prazer que desfrutava. Exigiu também que suas mãos lhe agarrassem forte, muito forte. Queria sentir-lhe os dedos marcando sua pele. Queria gozar comandando a situação queria o prazer que tudo aquilo lhe causava, queria dar-lhe igual gozo, queria gritar e gritou. Gritaram. Gritaram muito e sorriram, sem se importar com o resto.

Exaustos e satisfeitos perceberam o incrível número de rostos estavam a sua volta, sempre dentro dos espelhos, seguiam mudos e impassíveis procurando captar toda a magia vital que havia circulado naquele momento, única energia capaz de ser utilizada para fugirem das profundezas que se encontravam, Conseguiram. Assim, nada mais lhes importava. Eles já não eram mais necessários. Com a mesma força que foram tragados foram impulsionados novamente à superfície, cuspidos por Gaya para o mundo exterior.

Acordaram na praia com frio e confusos. Já era noite. Vestiram-se e foram embora de mãos dadas sem qualquer palavra. Afinal, se alguém lhe relatasse essa história eles jamais a acreditariam como possível...


VOLTO SEGUNDA-FEIRA
UM BEIJO

22 comentários:

Anônimo disse...

Voilà un roman; une histoire qui nous prend.
C'est beau.
Merci Gisa.

Flor de Jasmim disse...

Gisa
Que magnifica estória que fez com que lesse e voltasse a ler. adorei amiga.
Beijinho bfs

ANTONIO CAMPILLO disse...

Tu relato, Gisa, me ha hecho percibir amor y pasión.
La intensidad de lo vivido y sentido es tan potente que desagarra los sentidos de quien la ha vivido y de quien lee este relato.

Un fuerte abrazo.

Joaquín Lourido disse...

Hola Gisa,

Una maravillosa historia que relatas con ardúa pasión, amor y sensibilidad.
Es una experiencia que despiertan todos los sentidos y emociones de nuestras vicisitudes en función de su personalidad.

Beijos dende Galiza.

Luis Eustáquio Soares disse...

é uma ars erotica, a gaia ciência do corpo a corpo, pele a pele, lábio a lábio, sexo a sexo, amplexo, côncavo e conveso,
diverso.
delicioso te ler...
beijos
luis

Jose Manuel Iglesias Riveiro disse...

Preciosa, intima historia. Placer de leerla, imaginarse y tomar uno el papel del sentimiento y del goce del cuerpo a cuerpo, de la piel con la piel, de la boca con la boca amada, uniendo los deseos y los alientos deseados y no alcanzados. Sentir y experimentar las sensaciones soñadas tantas veces.
Un largo beso.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Realmente você tem uma capacidade de escrita
e de invenção...que sufoca!!!
Gostei de ler e reler.
Beijinho
Irene

ONG ALERTA disse...

Sabe bem o que falar...beijo Lisette.

Unknown disse...

Escrever ou redescrever sentimentos e ilusões não é tarefa fácil.
As sensações são impessoais e intimas.
Parece que ao acto em si se ligam os olhares indiscretos de tantos espelhos em que cada um se vê e se aumenta o desejo ou a indiferença.
Depois surge o acordar, o vestir-se de sentimentos diários e caminhar na vida com um olhar mais comum e sem medos.

Rogério G.V. Pereira disse...

Erostismo?
Só? Apenas?
Ou cenas
plenas
da Génese?
Acho que foi assim
que a Terra foi criada

Quem assistia ao público acto?
Era a humanidade ainda por nascer
Faaltam escrituras a provar o facto

Gaya ou Gaia?
Quando amada pelo pelo amado seu
o Céu?

Partiram de mâos dadas
talvez para tentarem confirmar
o que lhes fora descrito
ao acordar

Marinha disse...

Uau,Gisa!
Estás em constante processo criativo, hein. Texto quente e revelador! Adorei!
Bjo, querida.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida

Um texto maravilhoso...uma carícia em cada letra...um amor sem fronteiras, apenas os amantes sem se importarem com o mundo.
Adorei e deixo o meu beijinho e o meu carinho.

Rosa

Smareis disse...

Que bela essa história, quanto amor e sensualidade. Adorei, perfeita.Desejo um belo domingo, com encantada semana. Beijo grande!
Smareis

Sérgio Pontes disse...

Gostei bastante de ler, beijinhos

Luiz Neves de Castro disse...

O conto tem tudo da boa literatura: lirismo, erotismo, elementos fantásticos e um fim inesperado. Simplesmente brilhante!

Abraço e beijo afetuosos

VeraBruxa disse...

Olá!
Esta é a Gisa! Que tem a capacidade de prender o leitor com os mais diferentes temas. Concordo com Luiz Neves de Castro em postagem acima: brilhante!
Abraço.

Cissa Romeu disse...

Gisa, tudo bem?
Cheguei aqui por acaso, e encontro um conto maravilhoso, muito bem-escrito e diria até, sedutor, a cada linha envolvendo o leitor, nas forças telúricas de Gaia, que quase aprisionam os personagens! Muito bom!
Vi no seu perfil que és de Pelotas. Morei toda minha infância aí,amo essa cidade, e tenho amigos blogueiros daí!
Estou seguindo seu blog e te convido a conhecer o meu e seguir se gostar (espero que goste!) :)
Abração e ótima semana!

Humoremconto
http://anaceciliaromeu.blogspot.com

OceanoAzul.Sonhos disse...

Muito bem escrito, de corpo e alma.

boa semana querida amiga
beijos
oa.s

Valdeir Almeida disse...

Muito bom o conto. Gostei dos elementos e das metáforas. Acho também interessante os contos eróticos.

Beijos e ótima semana.

Carla Ceres disse...

Nunca mais que eu namoro na praia, Gisa! Pesadelo erótico só é bonito quando você escreve. :) Beijos!

Zé Carlos disse...

Gisa, vc é um encanto..... seja sempre feliz.... Bjs do ZC

Anônimo disse...

Belíssimo! Uma estória deliciosa cujo significado transcende. Uma escritora pronta para voos bem mais altos.
Beijokas.